São Paulo, terça-feira, 30 de novembro de 2010

Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Editoriais

editoriais@uol.com.br

COP-16

Sem as presenças de Lula e Dilma Rousseff, Brasil vai à conferência do clima apenas com seus compromissos de redução do desmatamento

As ausências do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de sua sucessora, Dilma Rousseff, são um sinal de que pouco se espera da 16ª Conferência das Partes, a chamada COP-16, da Convenção da ONU sobre Mudança do Clima. Há um ano, quando se aceleravam as movimentações eleitorais, ambos foram atraídos pelos holofotes e promessas da COP-15, realizada em Copenhague.
Agora, predomina o pessimismo. No máximo 30 chefes de Estado ou governo, poucos deles de maior projeção, devem ir a Cancún, no México, para presenciar o encontro que começou ontem.
As negociações se aproximam de um colapso. Lançadas há mais de 18 anos no Rio, com a adoção da convenção na Eco-92, elas só deram um passo significativo em 1997, com o Protocolo de Kyoto.
Os EUA, maior fonte de poluição do mundo àquela altura, nunca ratificaram Kyoto. O tratado expira em 2012, e Copenhague deveria ter fechado um acordo substituto, mas não conseguiu. Muito do impasse decorreu do confronto entre EUA e China, que se tornou desde então o maior emissor de gases do efeito estufa.
Os chineses, que como Índia e Brasil aceitaram diminuir o ritmo de aumento de suas emissões, prosseguem em desacordo com os EUA e países ricos sobre como monitorar os compromissos. EUA e China somam cerca de 40% das emissões mundiais.
Os americanos chegam a Cancún de mãos vazias. Barack Obama foi incapaz de aprovar no Congresso legislação para reduzir emissões em 17%. E perdeu a maioria na Câmara, ora dominada por republicanos, em geral céticos quanto à participação humana no aquecimento global.
Se a reunião de Cancún ao menos oficializar o pífio acordo esboçado em Copenhague, já será um progresso. Há chances de que se avance nos detalhes sobre cortes de emissões por redução de desmatamento. E também nos US$ 100 bilhões anuais das nações desenvolvidas que seriam destinados a ajudar as mais pobres no combate a enchentes, furacões, secas e migrações.
Há no entanto outro obstáculo a superar: o sistema de aprovação por unanimidade. O delicado e modesto arranjo de Copenhague quase ruiu na última hora, com vetos de atores menores como Venezuela, Bolívia e Sudão. Por isso, muitos acreditam que o melhor seria partir para acordos bilaterais ou regionais.
O Brasil está em posição confortável nas discussões. A promessa de reduzir em 80% o desmatamento até 2020 poderá ser cumprida quatro anos antes. Como o item representa quase dois terços das emissões domésticas, o país pode alcançar com alguma facilidade a meta de emitir até 39% menos em dez anos.
O cartucho da redução do desmate, no entanto, só pode ser usado uma vez. Melhor faria a presidente eleita, Dilma Rousseff, se em seu governo orientasse o desenvolvimento brasileiro para uma matriz de menor intensidade em carbono, com um programa mais ousado de redução de emissões da pecuária, da geração de energia e do setor de transportes.


Próximo Texto: Editoriais: Aeroporto privado

Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.