São Paulo, terça-feira, 30 de novembro de 2010

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LUIZ FERNANDO VIANNA

Tropas da elite

RIO DE JANEIRO - Em julho de 2007, o presidente de uma montadora francesa anunciou uma presença ilustre na plateia do show de Marisa Monte, contratado pela empresa: o secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame. Foi ovacionado.
Os 3.200 convidados formavam uma tropa da elite carioca, feliz com o resultado da operação que 1.350 policiais tinham realizado em 27 de junho no Complexo do Alemão: 19 mortos, parte sem indícios de ligação com o tráfico, atingidos por 78 tiros, sendo 32 nas costas. Nos aplausos ao secretário, joias balançavam em êxtase.
Uma cena semelhante, mas em escala menor, está em "Tropa de Elite 2". É quando um constrangido coronel Nascimento, ainda no Bope, recebe palmas e cumprimentos pelas mortes de presos rebelados.
Felizmente, o fracasso não subiu à cabeça de Beltrame e ele percebeu, a partir de 2008, que chacinas disfarçadas de grandes operações nada resolviam. Um tanto ao acaso, graças à experiência iniciada no Dona Marta, em Botafogo (zona sul), a ideia das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) se disseminou. Embora longe da perfeição cantada por parte da mídia, ela tem a compreensão correta de que, sem domínio do território, não há o que possa ser feito.
O Beltrame de 2010, portanto, é mais conhecedor da complexidade e das peculiaridades do Rio do que o de 2007. Sabe, por exemplo, que seu plano de cerco à Rocinha e ao Vidigal, na zona sul, não pode falhar, pois a mesma elite que o ovaciona agora quando os tiros cobrem o Alemão o criticou quando o faroeste ocorreu nas ruas de São Conrado, em 21 de junho.
Como mostra de modo raivoso o primeiro "Tropa de Elite", há muita gente no Rio que compra pó na Rocinha à noite e faz passeata pela paz de manhã. Assim é fácil.


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