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O VOTO EM FHC E OS ESTADOS
As pesquisas Datafolha de intenção de voto para a Presidência da República e para o governo de 12 Estados da Federação indicam que não há
relação direta entre o prestígio de caciques regionais que compõem a base política de Fernando Henrique
Cardoso e a sua capacidade de transferir votos para o presidente.
Ou seja, o favoritismo de candidatos situacionistas em alguns Estados
não tem como contrapartida, pelo
menos por ora, o favoritismo de FHC
nessas regiões. Tal situação é evidente na Bahia e no Ceará. No Estado do
senador pefelista Antonio Carlos
Magalhães, por exemplo, os dois
eventuais candidatos ao governo lideram a pesquisa com vantagem razoável. O atual governador Paulo
Souto (PFL), aparece com 46% das
preferências, 33 pontos percentuais
à frente do segundo colocado, Valdir
Pires (PT). Na situação em que o filho de ACM, o deputado Luís Eduardo Magalhães, é o candidato, ele aparece com 28% dos votos, contra 16%
do mesmo Pires.
No entanto, FHC oscila na Bahia
entre 32% e 34% dos votos, enquanto
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fica entre 24% e 26%. A pesquisa sugere
que, na área de sua maior influência,
ACM é um cabo eleitoral de FHC menos efetivo do que seria de supor.
No caso do Ceará, esse descompasso é ainda mais gritante. O governador tucano Tasso Jereissati tem 53%
das preferências, 30 pontos percentuais a mais que seu principal adversário, Juraci Magalhães (PMDB). No
mesmo Ceará, Lula leva uma ligeira
vantagem sobre FHC. Os dois perdem para Ciro Gomes (PPS).
Em outros quatro Estados com peso
eleitoral e político importantes
-São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul- há relativa correspondência entre as intenções de voto para governador e para
presidente. Hoje FHC seria muito
bem votado em São Paulo e Minas.
No primeiro, oscila entre 30% e 36%;
no segundo, entre 36% e 41%. Em
ambos os Estados, a disputa pelo governo é liderada por nomes que
apóiam o presidente. Eduardo Azeredo (PSDB) tem de 33% a 36% dos votos; Paulo Maluf, de 33% a 39%.
Nota-se que a aliança do presidente
com o malufismo, mais do que uma
estratégia para aprovar as reformas
no Congresso, parece ter também a
finalidade de tirar Maluf do páreo
presidencial e garantir a reeleição do
tucano a partir do maior colégio eleitoral do país, com o apoio do pepebista. E FHC vem dando sinais de que
não hesitará em sacrificar uma candidatura tucana em São Paulo em nome de seu projeto político pessoal.
São Paulo ganha ainda mais peso
quando se observa que FHC seria
derrotado por Lula tanto no Rio de
Janeiro como no Rio Grande do Sul.
No primeiro, a vantagem de Lula está
dentro da margem de erro. Esse quadro de disputa acirrada se reproduz
na eleição estadual, em que, apesar
da liderança de Anthony Garotinho
(PDT), há mais três candidatos bem
cotados -o ex-prefeito Cesar Maia
(PFL), o governador Marcelo Alencar
(PSDB) e a senadora Benedita da Silva (PT). No Rio Grande do Sul, Lula
tem entre 5 e 6 pontos percentuais de
vantagem sobre FHC, reproduzindo
em âmbito federal a liderança do PT
na disputa pelo governo do Estado,
com Olívio Dutra ou Tarso Genro.
Ambos têm uma pequena vantagem
sobre o governador Antônio Britto,
peemedebista da ala governista.
Ainda assim, seria precipitado sugerir que há uma relação orgânica
entre as eleições estaduais e a federal. A lógica das primeiras não tem
nenhum vínculo estrutural aparente
com a grande coalizão em torno do
Real. O processo eleitoral permanece
preso a lideranças individuais, ao
prestígio de grupos regionais, com
sucessos muitas vezes circunstanciais. Tais líderes e grupos ora podem fortalecer a aliança em torno de
FHC, ora podem complicá-la. A estratégia do próprio presidente de não
se envolver abertamente nas disputas
estaduais e sua disposição, manifesta publicamente, de buscar alianças
de "a a z", ao sabor das suas conveniências, parecem não ter sucesso
garantido. Mas certamente não contribuirão para aprimorar os hábitos
políticos do país, tarefa a que se propôs durante a campanha de 94.
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