São Paulo, terça, 30 de dezembro de 1997.



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O VOTO EM FHC E OS ESTADOS


As pesquisas Datafolha de intenção de voto para a Presidência da República e para o governo de 12 Estados da Federação indicam que não há relação direta entre o prestígio de caciques regionais que compõem a base política de Fernando Henrique Cardoso e a sua capacidade de transferir votos para o presidente.
Ou seja, o favoritismo de candidatos situacionistas em alguns Estados não tem como contrapartida, pelo menos por ora, o favoritismo de FHC nessas regiões. Tal situação é evidente na Bahia e no Ceará. No Estado do senador pefelista Antonio Carlos Magalhães, por exemplo, os dois eventuais candidatos ao governo lideram a pesquisa com vantagem razoável. O atual governador Paulo Souto (PFL), aparece com 46% das preferências, 33 pontos percentuais à frente do segundo colocado, Valdir Pires (PT). Na situação em que o filho de ACM, o deputado Luís Eduardo Magalhães, é o candidato, ele aparece com 28% dos votos, contra 16% do mesmo Pires.
No entanto, FHC oscila na Bahia entre 32% e 34% dos votos, enquanto Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fica entre 24% e 26%. A pesquisa sugere que, na área de sua maior influência, ACM é um cabo eleitoral de FHC menos efetivo do que seria de supor.
No caso do Ceará, esse descompasso é ainda mais gritante. O governador tucano Tasso Jereissati tem 53% das preferências, 30 pontos percentuais a mais que seu principal adversário, Juraci Magalhães (PMDB). No mesmo Ceará, Lula leva uma ligeira vantagem sobre FHC. Os dois perdem para Ciro Gomes (PPS).
Em outros quatro Estados com peso eleitoral e político importantes -São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul- há relativa correspondência entre as intenções de voto para governador e para presidente. Hoje FHC seria muito bem votado em São Paulo e Minas. No primeiro, oscila entre 30% e 36%; no segundo, entre 36% e 41%. Em ambos os Estados, a disputa pelo governo é liderada por nomes que apóiam o presidente. Eduardo Azeredo (PSDB) tem de 33% a 36% dos votos; Paulo Maluf, de 33% a 39%.
Nota-se que a aliança do presidente com o malufismo, mais do que uma estratégia para aprovar as reformas no Congresso, parece ter também a finalidade de tirar Maluf do páreo presidencial e garantir a reeleição do tucano a partir do maior colégio eleitoral do país, com o apoio do pepebista. E FHC vem dando sinais de que não hesitará em sacrificar uma candidatura tucana em São Paulo em nome de seu projeto político pessoal.
São Paulo ganha ainda mais peso quando se observa que FHC seria derrotado por Lula tanto no Rio de Janeiro como no Rio Grande do Sul. No primeiro, a vantagem de Lula está dentro da margem de erro. Esse quadro de disputa acirrada se reproduz na eleição estadual, em que, apesar da liderança de Anthony Garotinho (PDT), há mais três candidatos bem cotados -o ex-prefeito Cesar Maia (PFL), o governador Marcelo Alencar (PSDB) e a senadora Benedita da Silva (PT). No Rio Grande do Sul, Lula tem entre 5 e 6 pontos percentuais de vantagem sobre FHC, reproduzindo em âmbito federal a liderança do PT na disputa pelo governo do Estado, com Olívio Dutra ou Tarso Genro. Ambos têm uma pequena vantagem sobre o governador Antônio Britto, peemedebista da ala governista.
Ainda assim, seria precipitado sugerir que há uma relação orgânica entre as eleições estaduais e a federal. A lógica das primeiras não tem nenhum vínculo estrutural aparente com a grande coalizão em torno do Real. O processo eleitoral permanece preso a lideranças individuais, ao prestígio de grupos regionais, com sucessos muitas vezes circunstanciais. Tais líderes e grupos ora podem fortalecer a aliança em torno de FHC, ora podem complicá-la. A estratégia do próprio presidente de não se envolver abertamente nas disputas estaduais e sua disposição, manifesta publicamente, de buscar alianças de "a a z", ao sabor das suas conveniências, parecem não ter sucesso garantido. Mas certamente não contribuirão para aprimorar os hábitos políticos do país, tarefa a que se propôs durante a campanha de 94.



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