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CLÓVIS ROSSI
Ingratos?
SÃO PAULO - Você já imaginou se uma aliança entre o PCC (Primeiro
Comando da Capital) e o CV (Comando Vermelho) ganhasse as próximas eleições no Brasil?
Pois é mais ou menos isso, guardadas as proporções, o que acaba de
ocorrer na Sérvia, na periferia da civilizadíssima Europa: o partido que
ficou com a maioria relativa dos votos foi o Radical, liderado por Vojislav Seselj, comandante dos paramilitares que praticaram barbaridades
durante os conflitos que se seguiram
ao esfacelamento da antiga Iugoslávia. Seselj está preso em Haia, acusado de crimes de guerra, juntamente
com o ex-ditador Slobodan Milosevic, deposto há três anos na esteira de
uma rebelião popular incentivada
pela Ocidente.
Aliás, o partido do ditador (o Socialista) também se saiu relativamente
bem na eleição de domingo -a ponto de ambos os prisioneiros de Haia
terem o direito legal a uma cadeira
no Parlamento sérvio.
Só não formarão o novo governo
porque os grupos tidos como democráticos, somados, ainda obtiveram a
maioria, por mais que a convivência
entre eles seja turbulenta.
Com isso, a Sérvia se transforma no
segundo país em que a missão civilizadora empreendida pelo Ocidente
enfrenta retrocessos. O Iraque é o outro, como é óbvio.
Para se ter uma idéia das dificuldades, o jornal britânico "Financial Times" informa que o Tribunal Penal
Internacional de Haia é muito impopular na Sérvia. Como o tribunal,
pouco antes do pleito, pediu mais
quatro extradições, o nacionalismo
pode ter se expressado por meio do
voto nos radicais.
Por mim, adoraria que eventuais
criminosos de guerra brasileiros fossem extraditados para Haia ou para
o inferno e devidamente punidos por
qualquer corte internacional legítima (como a de Haia).
Mas sou reforçado a reconhecer que
a globalização, em vez de acabar com
o nacionalismo, reforçou-o em algumas partes, um fenômeno que demanda mais estudos para ser bem
compreendido.
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