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Transplantes à espanhola
A NOTÍCIA de que se desperdiçam no Brasil ao menos
50% dos órgãos que poderiam ser usados em transplantes
não é boa nem nova. Só veio confirmar que esse setor permanece
numa letargia preocupante.
Em 2006 foram realizados
14.100 transplantes com doadores mortos. Quase 70 mil doentes engrossam a soturna lista de
espera. Só metade das 10 mil
mortes encefálicas (condição para coleta de órgãos) a cada ano é
notificada a centrais captadoras.
Países vizinhos como o Uruguai viram a proporção de doadores alcançar 25,2 por milhão
de habitantes, não muito distante da campeã mundial, Espanha,
com 33,8. Nos últimos três anos,
o índice brasileiro caiu de 7,3 para 6 doadores por milhão.
Na origem dessa involução se
encontram deficiências de organização. A taxa deficiente de notificações se reduz ainda mais
com a falta de pessoal treinado e
instalações para manter o doador potencial apto para a retirada de órgãos. Cada hospital com
mais de 80 leitos deveria ter uma
comissão designada para a tarefa, mas isso está longe de se tornar realidade. Resultado: a captação real é da ordem de 10%.
A Espanha se tornou líder três
anos depois de implantar uma
mudança radical no sistema, que
prevê equipes especiais -sem
outra função- em cada hospital.
Apesar do acréscimo inicial de
custo, a inovação se paga por reduzir o gasto com doentes na lista de espera (cada paciente em
diálise custa US$ 50 mil anuais).
Metade da lista brasileira é de
pessoas à espera de um rim. De
2001 a 2006, essa modalidade de
transplante foi uma das que menos cresceram: 9%, contra a média de 45%. Os gastos com diálise
ultrapassam R$ 1,1 bilhão, contra
R$ 600 milhões de todo o sistema de transplantes. Há mais do
que razões humanitárias, como
se vê, para considerar o modelo
espanhol com atenção.
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