São Paulo, domingo, 30 de dezembro de 2007

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Transplantes à espanhola

A NOTÍCIA de que se desperdiçam no Brasil ao menos 50% dos órgãos que poderiam ser usados em transplantes não é boa nem nova. Só veio confirmar que esse setor permanece numa letargia preocupante.
Em 2006 foram realizados 14.100 transplantes com doadores mortos. Quase 70 mil doentes engrossam a soturna lista de espera. Só metade das 10 mil mortes encefálicas (condição para coleta de órgãos) a cada ano é notificada a centrais captadoras.
Países vizinhos como o Uruguai viram a proporção de doadores alcançar 25,2 por milhão de habitantes, não muito distante da campeã mundial, Espanha, com 33,8. Nos últimos três anos, o índice brasileiro caiu de 7,3 para 6 doadores por milhão.
Na origem dessa involução se encontram deficiências de organização. A taxa deficiente de notificações se reduz ainda mais com a falta de pessoal treinado e instalações para manter o doador potencial apto para a retirada de órgãos. Cada hospital com mais de 80 leitos deveria ter uma comissão designada para a tarefa, mas isso está longe de se tornar realidade. Resultado: a captação real é da ordem de 10%.
A Espanha se tornou líder três anos depois de implantar uma mudança radical no sistema, que prevê equipes especiais -sem outra função- em cada hospital. Apesar do acréscimo inicial de custo, a inovação se paga por reduzir o gasto com doentes na lista de espera (cada paciente em diálise custa US$ 50 mil anuais).
Metade da lista brasileira é de pessoas à espera de um rim. De 2001 a 2006, essa modalidade de transplante foi uma das que menos cresceram: 9%, contra a média de 45%. Os gastos com diálise ultrapassam R$ 1,1 bilhão, contra R$ 600 milhões de todo o sistema de transplantes. Há mais do que razões humanitárias, como se vê, para considerar o modelo espanhol com atenção.


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