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CLÓVIS ROSSI
O massacre no gueto de Gaza
SÃO PAULO - O Ocidente tem
imensa dificuldade em condenar
Israel, mesmo quando merece. Só
pode ser má consciência. Afinal, o
Holocausto, um dos mais nefandos
crimes que a história registra, não
foi obra de árabes ou de fundamentalistas religiosos, mas de europeus
arianos.
Mais difícil é entender o apoio cego de sucessivos governos norte-americanos a Israel, mesmo agora,
quando o Estado judeu comete "crimes contra a humanidade", como
disse Recep Tayyip Erdogan, primeiro-ministro da Turquia, um raro governante muçulmano que
mantém (ou mantinha) boas relações com Israel.
A bem da verdade, Israel vem cometendo crimes contra os palestinos há muitíssimos anos, a começar
do desrespeito à resolução da ONU
que manda devolver os territórios
palestinos ocupados em sucessivas
guerras.
Mas é na Faixa de Gaza que a violência atinge o pico. Neste ano, Israel bloqueou os acessos a Gaza e
transformou-a num gueto de 362
km 2 em que se amontoam 1,5 milhão de pessoas, 35% dos quais no
desemprego, 35% em situação de
pobreza absoluta.
Não se trata de desprezar os riscos que Israel corre, seja pelo terrorismo praticado pelos fundamentalistas, seja pelos ataques com foguetes disparados desde Gaza. Mas
adotar punição coletiva é intolerável, além de ineficaz. Acaba apenas
jogando mais jovens no desespero
que é, em parte, a estufa em que se
incubam terroristas.
Não adianta também tentar asfixiar o Hamas, que governa Gaza e é
uma das raríssimas administrações
no mundo árabe nascida de eleições que a comunidade internacional aceitou como justa e livre. A
menos que se acredite que o Hamas
ganhou porque todos os palestinos
de Gaza são terroristas. Quem acredita nessa hipótese vai acabar propondo a "solução final" para o gueto de Gaza.
crossi@uol.com.br
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