São Paulo, quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

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KENNETH MAXWELL

Sobrevivendo a Bush

A CARREIRA governamental de George W. Bush está chegando ao fim, e ele agora é um "lame duck" (um "pato manco"), um político em final de mandato. Boa parte de seu poder político se esvaiu, e os norte-americanos estão à espera de uma nova Presidência, no ano que vem. Mas é importante lembrar que Bush ainda tem quase um ano a cumprir no mais poderoso posto do planeta.
Ele continua a exercer os poderes de comando supremo das Forças Armadas dos EUA. E ainda pode causar problemas.
Tudo isso garante que, caso Bush tenha chance de agir unilateralmente uma vez mais para reafirmar seu poder, ele indubitavelmente o fará. Quanto a questões de política interna, ele precisaria da colaboração do Congresso, como o pacote de estímulo econômico para combater a ameaça de recessão, negociado com a liderança democrata da Câmara dos Deputados, deixou claro na semana passada.
Mas a Constituição dos EUA impõe restrições muito menores às ações do presidente quanto a assuntos de política externa. Intrinsecamente, portanto, é muito mais provável que uma crise internacional sirva como catalisador às ações do presidente "pato manco".
Assim, onde ocorrerá a próxima crise internacional? Ainda que as atenções dos especialistas estejam agora concentradas no "fundamentalismo islâmico", definido pelo líder entre os pré-candidatos republicanos à Presidência, senador John McCain, como o maior desafio do século 21, suspeito que não será essa a origem de uma nova crise. Afinal, os parâmetros do assunto inacabado estão bem definidos: a ameaça continuada da Al Qaeda; a insurgência no Iraque; a crise sem fim na Palestina; o confronto com o Irã; a instabilidade no Paquistão e no Afeganistão.
Mas existe uma crise previsível fervilhando mais perto de casa, que terá grande impacto sobre a América Latina e com relação à qual os Estados Unidos estão presos a uma política inflexível e sujeitos à ação de poderosos grupos de interesses internos prontos a intervir, especialmente em um ano eleitoral; e o detonador dessa bomba-relógio já começou sua contagem regressiva.
A "oportunidade" de Bush pode surgir em Cuba.
Há dois fatores inevitáveis nisso. Um é a certeza de que Bush deixará o cargo em janeiro de 2009. O outro é que Castro morrerá. A incerteza envolve determinar se Castro morrerá antes de janeiro do ano que vem ou sobreviverá à Presidência de Bush. Castro sobreviveu a todos os presidentes norte-americanos desde 1959, e com sorte é possível que o faça de novo. Mas, caso ele venha a morrer enquanto Bush continuar presidente, e em meio a um ano de eleição presidencial nos Estados Unidos, podemos esperar por uma infinidade de problemas.


KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras nesta coluna.
Tradução de PAULO MIGLIACCI


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