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NELSON MOTTA
'"Dancin" Days'
RIO DE JANEIRO - A brasileiríssima expressão "no fim, tudo acaba em
samba" é originalmente carioca,
mas, por influência paulista, acabou
se transformando em "acabar em
pizza".
Agora, numa síntese interestadual
pra lá de dialética, a deputada Guadagnin juntou as duas em uma e a
pizza acabou em samba. A impunidade ao quadrado.
E depois ainda veio ofender os idosos, as mulheres, os gordos e os feios,
que não aceitam nada do que ela comemora, dizendo que sua atitude só
teve essa dimensão por sua condição
de mulher madura, acima do peso e
fora dos padrões de beleza vigentes.
Ah!, e porque luta pela justiça. Parece
que os cidadãos e cidadãs honrados
que não lutam pela justiça são todos
jovens, magros e bonitos. E burros.
A deputada ofendeu também milhões de machistas honestos, trabalhadores e patriotas quando sugeriu,
em tom indignado e ressentido, que,
se fosse uma gostosona ou um homem, não reclamariam tanto. Podem ser machistas, mas não são burros nem agüentam mais corrupção,
mentiras e cinismo.
Se a Maria Fernanda Cândido fosse
deputada e sambasse no plenário, seria lindo de ver, mas horroroso se fosse para comemorar a absolvição de
colegas pilhados com a mão na massa. Mas Maria Fernanda não faria
nem uma coisa nem outra: é uma
mulher de responsabilidade e compostura.
A defesa da musa da pizza -cada
momento de nossa história tem a
musa que merece- faz par perfeito
com Severino, dizendo-se vítima de
preconceito por ser macho, nordestino, feio e barrigudo. Mas nem Severino se deu à "grotesqueria" de xaxar
em plenário.
A deputada é também uma mulher
de sorte; a queda de Palocci ocupou
todos os espaços da mídia e tirou-a
da linha de tiro. Mas nada que ela faça ou diga apagará da memória popular as inesquecíveis imagens de
uma deputada rindo e sambando pela impunidade e pelo privilégio.
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