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RUY CASTRO
Jogo perigoso
RIO DE JANEIRO - Como se não
bastassem os fantasmas da vida real
-eu sei, é um oxímoro, mas os oxímoros, contrariando sua própria
natureza, existem-, vêm aí os fantasmas da vida virtual. E esses é que
são mortíferos.
Na terça-feira, um senador pelo
Amazonas convocou a depor no
Congresso um laboratório americano que estaria descaradamente
propondo pela internet a internacionalização da Amazônia. O tal laboratório seria o Arkhos Biotech,
uma multinacional dedicada a extrair ativos vegetais para a indústria
de remédios e cosméticos -aquela
que, não contente em drenar a floresta, asfixia nossas ruas com sua
média de quatro ou cinco farmácias
por quarteirão.
Ao fim e ao cabo, descobriu-se
que o solerte laboratório não existe.
Não no nosso mundo, pelo menos
-mas não é assim tão simples. O
Arkhos é uma empresa fictícia, que
faz parte de um jogo virtual num site, este, sim, real. O dito jogo trata
da luta pela fórmula secreta de um
guaraná -o qual, por sua vez, existe
de verdade e é seu patrocinador. O
laboratório seria o vilão da história,
algo assim como a Spectre para James Bond, e tão real quanto. Ao
mesmo tempo, se bem entendi, os
heróis pertencem a um grupo ambientalista chamado Efeito Paralaxe, também fictício, mas que fez um
protesto "real" durante a recente
vinda de Bush ao Brasil.
Entendeu? Ou seja, é um videogame que, ao abolir as fronteiras
entre o real e o virtual, mostrou
que, se você não ficar esperto, ele
pode interferir na realidade. No caso, alterando a rotina do Congresso.
Nos anos 60, Stanislaw Ponte
Preta chamou a hoje inofensiva televisão de "máquina de fazer doido". Ele odiaria a internet. Mas a internet adoraria o apresentador
Chacrinha, com seu profético bordão: "Não vim para explicar, mas
para confundir".
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