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MARCOS NOBRE
O PAC e a Daslu
PODE SER QUE a Operação
Castelo de Areia seja mesmo
apenas uma ação rotineira da
Polícia Federal. Mas suas consequências não são nem um pouco
rotineiras.
Por causa das supostas doações
irregulares a candidaturas e partidos, a investigação na empresa Camargo Corrêa poderia dar um empurrão na combalida reforma política. Especialmente no que diz respeito à proposta de financiamento
público de campanhas, ponto de
honra para o PT desde o episódio
do "mensalão". A última chance
para isso é neste ano. Do contrário,
a reforma vai mesmo se resumir à
aprovação de uma janela oportunista para o troca-troca partidário.
A operação da PF também colocou sob os holofotes o Tribunal de
Contas da União, de composição
francamente desfavorável à situação. Até o momento, a oposição
tem larga vantagem nas pesquisas
eleitorais. Mas quem está à frente
de governos estaduais importantes
teme um confronto aberto com o
governo. Evita se pronunciar sobre
temas candentes da agenda política. Por isso é que o DEM acabou ganhando protagonismo na oposição
ao governo. É também por isso que
as declarações do presidente do
Supremo Tribunal Federal parecem sempre vocalizar ideias oposicionistas, por exemplo.
A crise econômica apenas agravou o desespero do governo com a
lentidão das obras do Programa de
Aceleração do Crescimento. Vista
como o principal obstáculo ao
avanço do programa, Marina Silva
foi substituída há pouco menos de
um ano. Nesse momento, o governo descobriu no TCU uma espécie
de gargalo invisível do PAC. A investigação da PF colocou sob suspeita a atuação de alguns ministros
do tribunal. E, pelo menos por enquanto, reduziu em muito sua possível atuação oposicionista.
Não menos importante é a pressão direta sobre a própria oposição.
Os efeitos deletérios da crise econômica se agravam a cada dia. Com
a aproximação das eleições, DEM e
PSDB teriam o ambiente ideal para
partir para o ataque. A investigação
acuou líderes importantes da oposição. E, de quebra, sepultou a tentativa do presidente da Fiesp de
apresentar uma candidatura alternativa à polarização entre PT e
PSDB em São Paulo.
A investigação na Camargo Corrêa é o fato político mais importante do ano. Não é necessário acreditar em teorias conspiratórias para
enxergar as suas muitas dimensões
e consequências. Só um conchavo
político de amplo espectro pode
impedir que venham à tona. Uma
manobra que costuma vir acompanhada de foguetório sobre assuntos bem menos importantes. Como
a condenação de uma dona de loja,
por exemplo.
nobre.a2@uol.com.br
MARCOS NOBRE escreve às terças-feiras
nesta coluna.
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