São Paulo, terça, 31 de março de 1998

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Painel do leitor

Crítica
"O "Novo Manual de Redação' da Folha diz que o jornal se propõe a realizar "um jornalismo crítico, apartidário e pluralista'. Mas quando se trata do prefeito Celso Pitta só vale o "crítico', como fica claro na Nota da Redação no "Painel do Leitor' de 26/3, sobre o projeto de criação da Companhia Municipal de Ativos: "Tal operação não é nada corriqueira em se tratando de Pitta, que endividou irresponsavelmente o município'. Esse é um juízo de valor completamente subjetivo e preconceituoso.
O noticiário sobre a Companhia Municipal de Ativos (24/3, pág. 3-6) trouxe apenas a opinião de vereadores da oposição, como José Eduardo Martins Cardozo (PT). A prefeitura não foi ouvida.
A reportagem fala em precatório e endividamento, omitindo que o maior precatório que a prefeitura terá de pagar, em valor superior a R$ 200 milhões, foi criado exatamente por Cardozo quando era secretário de governo da ex-prefeita Luiza Erundina, que desapropriou a mansão Matarazzo para criar um "museu dos trabalhadores'.
A mansão ruiu e o terreno virou um estacionamento. No mesmo dia (24/3), um outro jornal ("Diário Popular', pág. 14) informa o que a Folha omite: "Tribunal de Justiça obriga prefeitura a indenizar os Matarazzo'. Esse e outros exemplos, como atribuir sistematicamente ao prefeito Celso Pitta declarações que nunca fez, contrariam expressamente o que está escrito no verbete "campanha' do "Manual': "A Folha nunca participa de campanhas para enaltecer ou desacreditar pessoas nem serve a interesses particulares de partido político, grupo ou tendência ideológica'."
Antenor Braido, secretário de Comunicação Social da Prefeitura de São Paulo (São Paulo, SP)

Nota da Redação - Pitta admitiu que, em parceria com o ex-prefeito Paulo Maluf, endividou a prefeitura com fins eleitorais em entrevista à Folha publicada em 30 de novembro de 1997, no seguinte trecho, entre outros: "Essa decisão de acelerar as obras, correta, estratégica, se baseou no fato de que, em meados do ano passado, quando começou a campanha para a sucessão, as minhas chances eram mínimas... Claro que, concluída aquela fase, tivemos que tomar fôlego para nos adequar à disponibilidade financeira". Irresponsabilidades da gestão Erundina não deveriam justificar as da gestão Maluf. Vale lembrar que o ex-prefeito emitiu R$ 947 milhões em títulos para pagar precatórios em 1996, dos quais R$ 607 milhões não foram utilizados para o pagamento de tais dívidas, segundo o Tribunal de Contas do Município. Quanto à reportagem sobre o projeto de lei da Companhia Municipal de Ativos, a prefeitura foi ouvida sim, por intermédio de sua assessoria de imprensa, conforme consta à página 3-6 de 24 de março de 1998.


Saúde
"Quer dizer que o ministro Sérgio Motta vai ao exterior tratar da saúde? E sob a recomendação de FHC? Proponho que todo detentor de cargo eletivo, desde vereador a presidente, seja obrigado a tratar da saúde em hospital público enquanto durar seu mandato. Quem sabe assim melhora o serviço de saúde no Brasil?"
Fernando Cruz (Uberlândia, MG)


"O ministro da Saúde não ser um médico não é demérito. Assim, possui até mais liberdade para agir. Ele não vai dar consulta, vai fazer política de saúde. Se for consciente do seu papel, querendo cidadania na saúde para o pobre e classe média baixa, pode fazer um bom trabalho.
O Brasil tem condições de ter uma saúde pública de primeira. O exército médico é um verdadeiro exército chinês, pelo tamanho. É só o ministro da Saúde fazer a sua parte."
Luiz Ribeiro de Oliveira (Rio de Janeiro, RJ)


Inadimplência
"Como explicado pelo articulista Aloysio Biondi no artigo "A Light, a Caixa Econômica e o Congresso' (Dinheiro, pág. 2-2 de 26/3), de um lado o governo federal agracia as empresas privatizadas com milhões de reais em empréstimos a taxas de juros de 6% ao ano e, de outro, a Caixa decide comunicar ao SPC e ao Cadin o nome dos mutuários inadimplentes, que, evidentemente, pagam taxas de juros absurdas e não conseguem honrar seus compromissos.
Estranhamente, o governo do Rio Grande do Sul e o BNDES emprestam à multinacional Ford a quantia de R$ 750 milhões a taxas de juros de 6% ao ano (Dinheiro, 26/3, pág. 2-7), enquanto o sofrido povo brasileiro tem de suportar juros mínimos de 28% ao ano para seus financiamentos.
Esses R$ 750 milhões, com as mesmas taxas de juros, se fossem utilizados para financiamento de micro, pequenas e médias empresas nacionais, gerariam milhares de empregos aos brasileiros e fortaleceriam nossas empresas."
Alberto Benedito de Souza (São Paulo, SP)


Fogo
"O presidente Fernando Henrique Cardoso deve uma satisfação à nação brasileira. Por que demorou tanto para tomar providências contra o incêndio que aniquila Roraima? E o Exército brasileiro, onde estava esse tempo todo? E o ministro do Meio Ambiente? O que fazia enquanto Roraima ardia em chamas?
Aqui vai uma sugestão ao governo federal: assim como rapidamente se criou um Proer, que tal criar um "Programa de Socorro da Amazônia'? Que tal implementar uma política ambiental que efetivamente preserve a floresta (não apenas 10% do que resta, como pretendem alguns) e não camufle a exploração desenfreada, sob o rótulo de "manejo florestal sustentável'? Onde está a sociedade civil brasileira que não se indigna ante um quadro dantesco de destruição de tão precioso patrimônio?"
Margaret Ferreira dos Santos e Carlos Roberto Monteiro de Andrade (São Carlos, SP)


Cidade de pedra
"Por que será que tanto Lúcio Costa como Niemeyer não moram em Brasília? Não consta que os arquitetos que reurbanizaram Paris ou Viena tenham saído de lá, concluídas as suas obras, para nunca mais voltar.
Convido qualquer admirador de Brasília a passar um tempo morando aqui (morando, não a passeio). Hospedo em minha casa.
Como se não bastasse o pesadelo urbanístico, sua concepção de beleza frutificou: a cidade é agraciada por um sem-número de caixotes de cimento de vários tipos. Como prêmio, o afamado arquiteto tornou-se o arquiteto oficial do Brasil.
Quando se decidiu pela mudança da capital do Rio de Janeiro para Brasília, o país selava e antevia seu destino. Tornou-se como esta cidade: difícil, árida e onde as diferenças sociais, embora se faça tudo para escondê-las, escancaram-se à nossa volta."
Solange Bomentre (Brasília, DF)


Leão
O funcionalismo público civil da União surpreendeu-se com o desconto extorsivo do Imposto de Renda no contracheque de março. O ministro Bresser Pereira havia anunciado, em janeiro, que o salário do funcionalismo civil voltaria a ser concentrado em uma só vez, após o dia 25 de cada mês. Por causa dessa mudança, para minha surpresa e estarrecimento, foi descontada no meu pagamento de março a alíquota de 38,94%, em vez dos 27,5% usuais.
Considerando que nós, servidores públicos civis, estamos sofrendo um terrível arrocho salarial há quase quatro anos -sem aumento-, pergunto: por que prejudicar essa classe ainda mais?
Bettina Alice Laufer Calafata (Rio de Janeiro, RJ)



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