São Paulo, segunda-feira, 31 de maio de 2004

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ELVIRA LOBATO

Do Brasil para o mundo

RIO DE JANEIRO - Descobriu-se, na semana passada, a existência da minuta do decreto presidencial que vai criar a TV Pública Internacional do Brasil, um canal estatal para divulgar a imagem do país no exterior.
Naturalmente, será para mostrar uma imagem positiva, um país diferente daquele marcado pela violência, pela pobreza e pelos desmandos administrativos que chega ao conhecimento da opinião pública internacional pelo noticiário não-oficial.
O que se questiona é a conveniência de tal investimento. O canal estatal começa com um orçamento de R$ 10,3 milhões para 2004, mas que dobraria a partir do ano que vem. É pouco diante da dimensão das carências nacionais, mas a questão é política, de definição de prioridades.
A idéia recebeu crítica imediata de profissionais de emissoras de televisão, que viram nela uma tentativa do governo de reinventar a roda e de desperdiçar dinheiro público. Afirmam os especialistas, aparentemente com razão, que um canal estatal seria visto com desconfiança pelo público bem informado. O exemplo mais citado é a rádio ""Voz da América", identificada como um canal de propaganda oficial dos EUA.
Eles lembram que há emissoras de televisão públicas européias, como a Deutsche Welle (Alemanha), a BBC (Reino Unido), a RAI (Itália) e a TVE (Espanha), que têm canais internacionais bem-sucedidos. Mas são emissoras de programação aberta, que têm independência em relação ao governo. A Deutsche Welle, por exemplo, é uma autarquia que se mantém com as taxas que os telespectadores pagam para receber a programação e com a venda de espaço publicitário, segundo informa em seu site na internet.
A TV Pública Internacional do Brasil será mantida com recursos da Radiobrás, do Senado, da Câmara e do STF e será dirigida por um comitê gestor indicado por Executivo, Legislativo e Judiciário. Difícil imaginá-la agindo com independência dos Poderes que vão sustentá-la.


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