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CARLOS HEITOR CONY
Corrupção acelerada
RIO DE JANEIRO - Barragem em
um rio, não sei se no Piauí ou em
Alagoas, foi orçada inicialmente em
R$ 30 milhões. Posteriormente, a
obra recebeu novo orçamento, à base de R$ 70 milhões, mais do que o
dobro da primeira avaliação. Veio o
segundo mandato de Lula e, logo
nos primeiros dias de seu novo governo, foi lançado o PAC, pseudônimo de Programa de Aceleração do
Crescimento. A barragem passaria
a custar R$ 120 milhões.
Tal como o Fome Zero do primeiro mandato, lançado entusiasticamente nos primeiros dias de Lula
no poder, tanto o governo como a
mídia em geral louvaram a aceleração do crescimento -agora, sim, o
Brasil iria deslanchar, chegaria lá.
Evidente que o projeto da barragem fora malfeito. Logo passaria
para o dobro, mas nem assim os R$
70 milhões bastariam. Finalmente,
os técnicos do governo chegaram ao
preço justo, que, além da barragem
propriamente dita, teria gordura
suficiente para bancar todos os intermediários, laranjas, lobistas e
demais interessados.
Não é sem motivo que a aplicação
do PAC está patinando, com governadores, prefeitos, senadores e deputados querendo beliscar o suculento pudim que saiu dos fornos do
Alvorada. Tem de dar para todos.
Uma obra de R$ 30 milhões, ainda
que reajustada para R$ 70 milhões,
precisa de verba maior para contentar a todos.
São muitos os programas de crescimento acelerado que o governo
pretende executar. Para tornar-se
realidade, cada projeto precisa pagar não apenas os custos técnicos
de cada empreendimento mas contemplar os inexplicáveis intermediários interessados na liberação
das verbas e, se possível, no próprio
aumento das verbas.
O Brasil vai bem, obrigado. Talvez não consiga acelerar o crescimento, mas conseguiu acelerar a
corrupção.
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