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Pulgas no Legislativo
Prisão de parlamentar fluminense mostra a aceleração do ciclo de escândalos de corrupção na política brasileira
FORMAÇÃO de quadrilha, lavagem de dinheiro, corrupção passiva, peculato.
A lista das acusações é
mais ou menos a mesma -quando não se estende aos crimes de
contrabando, seqüestro e homicídio. Só mudam os nomes dos
políticos envolvidos em casos
desse tipo.
Mal se inicia o inquérito contra
o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), no Supremo Tribunal Federal, e o noticiário registra a prisão de Álvaro Lins, deputado peemedebista na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, e ex-chefe da Polícia Civil daquele Estado. Apontam-no como
o chefe de um esquema de nomeações de delegados, aos quais
se encarregaria de facilitar as atividades de sonegadores de impostos e donos de caça-níqueis.
Da "Operação Segurança S.A.",
empreendida pela PF, também
saem acusados um vereador, vários policiais e o sucessor de Lins
na chefia da Polícia Civil fluminense. Toda a organização, segundo a PF, tinha entretanto um
mentor de maior calibre: o ex-governador Anthony Garotinho,
que passa à história do Estado do
Rio como o primeiro chefe de governo estadual a ser apontado
formalmente como chefe de quadrilha também.
Durou pouco, todavia, a prisão
do deputado Álvaro Lins. Invocando o princípio de que deputados só podem ser detidos em caso de flagrante criminal, a Assembléia Legislativa aprovou,
com folgada maioria de votos,
projeto de resolução devolvendo-lhe a liberdade.
De certo ponto de vista, foi
uma sábia decisão: dos 70 deputados da Casa, 33 debatem-se
com acusações na Justiça. Como
diz outro parlamentar, "cachorro que não tem pulga, ou já teve
ou ainda vai ter".
O autor da frase é ninguém
menos do que o presidente do
Conselho de Ética da Câmara,
Sérgio Moraes (PTB-RS), que
justifica desse modo -como se
fosse uma contingência profissional- o fato de ser ele próprio
acusado de irregularidades.
Verdade que são de pouca
monta; o deputado teria contratado enfermeiras sem licitação,
quando foi prefeito de Santa
Cruz do Sul, e intercedido com
policiais para que não multassem carros da prefeitura. Pulgas
maiores acometem o senador
Gim Argello (PTB-DF), que enfrenta inquérito no STF por crimes contra o patrimônio, peculato e lavagem de dinheiro.
Não deixa de ser melancólico
notar que, em tantos parlamentares, a lavagem de dinheiro pareça ser um procedimento de higiene mais constante que o de
submeter-se a banhos contra
pulgas de vez em quando. Talvez,
com o passar do tempo, estas já
tenham se imunizado contra venenos e pesticidas. Caso típico de
imunidade parlamentar.
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