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GUSTAVO FRANCO
Nota cinco
NÃO SÃO muitos os que sabem explicar exatamente o
que é o "grau de investimento", a grande notícia desta semana. Mas a idéia geral é simples,
como as certificações de qualidade,
começando por ISO e seguidas por
um número, geralmente aplicadas
para produtos industriais.
É claro que um consumidor indefeso, diante de um ferro de passar roupa ISO 9.000, pode ficar impressionado com o selo, mas vai ficar indeciso diante de outro produto com um selo ISO 8.000, de outra
cor e mais caro.
Quando se trata da certificação
da qualidade do crédito de um país,
ou mais precisamente do risco soberano, o que se pode dizer de forma muito simples sobre as escalas
é que, como as notas no colégio, vão
de zero a dez, em intervalos de
meio ponto. E, também como no
ginásio, as notas iguais ou maiores
que cinco são designadas como
"grau de investimento".
Para duas das três principais
agências certificadoras ou classificadoras de crédito no mundo, o
Brasil é nota cinco. Para a terceira,
a Moody's, estamos ainda com um
esforçado quatro e meio.
Há muito significado na nota
cinco, que é a mínima exigida em
muitos estatutos de investidores
institucionais, de modo que ganhar
um cinco é semelhante a passar de
ano, motivo de festa para um país
que esteve em estado crônico de
reprovação há décadas. Todavia, o
alívio deve ser comedido, pois, na
realidade, o menino passou raspando, e a nota não é boa e está
muito abaixo do potencial de
aprendizado da criança.
Por isso mesmo os pais não devem pensar que a vida ficou mais
fácil, pelo contrário. Ao passar de
ano, o menino vai ver matéria nova,
bem mais difícil. O grau de exigência ficou maior, como bem sabe o
América de Natal, que, no ano retrasado, ganhou com méritos o direito de jogar na primeira divisão
do futebol brasileiro, mas teve dificuldade em se equilibrar na nova
condição.
A lição do América de Natal, hoje
rebaixado, deve ser muito útil para
o ministro da Fazenda e para o governo em geral, que devem investir
nos atributos que são próprios dos
clubes grandes, e que as agências
elogiaram, e não nos conceitos e
idéias que as agências criticaram
abertamente, como esse keynesianismo paraguaio que às vezes assoma o governo quando se trata de
despesa e, mais especificamente,
como algumas piruetas como o
Fundo Soberano e a nova CPMF.
A melhor coisa do "grau de investimento" é deixar claro que idéias
alternativas e esotéricas no domínio da política econômica ficaram
para trás e não cabem mais na nossa classificação de crédito. Mais um
prego no caixão das heterodoxias.
gh.franco@uol.com.br
GUSTAVO FRANCO escreve aos sábados nesta
coluna.
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