São Paulo, segunda-feira, 31 de maio de 2010

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RUY CASTRO

Sinas eleitorais

RIO DE JANEIRO - Às vezes, fico me lembrando de políticos que passaram a vida sonhando com a Presidência. Lutaram, prepararam-se para ela, disputaram-na e nunca chegaram lá. Pior ainda: foram ultrapassados na reta final por azarões que talvez nunca tivessem pensado muito no assunto.
O brigadeiro Eduardo Gomes, por exemplo, que concorreu às eleições de 1945 e 1950. O fato de ser "bonito e solteiro", como rezava seu slogan, não o impediu de perder na primeira para o general Gaspar Dutra, um dos homens mais feios que já circularam pelo planeta, e na segunda para Getúlio Vargas, de quem o Brasil pensara ter se livrado apenas cinco anos antes.
Outro que tentou duas vezes -1955 e 1960- foi o folclórico Adhemar de Barros, cujo slogan em sua segunda disputa era "Desta vez, vamos!". Mas não foi também daquela vez. Adhemar pegou um anêmico 3º lugar, sendo ultrapassado por Jânio Quadros, o vencedor disparado, e até pelo marechal Lott, um homem tão honesto que perdia um caminhão de votos toda vez que abria a boca.
Em 1989, nas primeiras eleições depois da ditadura, Leonel Brizola ressurgiu de seu longo exílio para se ver caroneado pelo jovem e obscuro -em mais de um sentido- Fernando Collor. A sina de Brizola parecia ainda mais dramática porque ele já teria sido candidato em 1965, se tivesse havido eleições naquele ano.
A história pode se repetir agora com José Serra, candidato pela segunda vez e há anos acalentando seu projeto presidencial. Serra tem um páreo duro em Dilma Rousseff, que, até outro dia, não cogitava candidatar-se nem à presidência da Associação de Senhoras dos Rotarianos. Atenção, não estou dizendo que ele vá perder. Mas sua adversária é pupila de um homem que precisou perder três eleições para se sentar no trono -algo ele certamente aprendeu.


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