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FERNANDO GABEIRA
Segunda onda
RIO DE JANEIRO - A democracia
vem em ondas, acha um candidato
chileno. Se isso é verdade, a primeira onda já se esgotou no Brasil. Eleições diretas, uma política econômica realista, uma generosa política
social são suas conquistas. Mesmo
se Sarney cair, o que é inevitável,
e a sociedade impuser sobriedade
ao Senado, as coisas não estarão
resolvidas.
Uma segunda onda de democracia fatalmente virá. Um dos seus
componentes essenciais é a responsabilidade diante da transparência.
Responder às questões, admitir erros, corrigir rumos, é a base do comportamento na nova etapa.
Há um risco desse tema escapar
às eleições presidenciais. O PT empacou na primeira onda. As forças
restantes parecem tímidas ou exauridas para conduzi-la. Será preciso
vencer muitos medos. O primeiro
deles é de que o tema interessa apenas à classe média ou apenas às metrópoles. No caso da esquerda, há o
argumento de que a demanda é
apenas uma manifestação udenista,
referindo-se ao passado. Para quem
dizia que a história não se repete,
achar repetição em cada esquina é
muito estranho.
Existem mitos: não se ganham
eleições sem os fisiologistas. Duas
eleições presidenciais foram ganhas contra eles, a de Collor e Lula.
Não se governa sem eles, dizem.
Mas o que é governabilidade? No
meu entender, significa realizar
elementos básicos do programa.
Não é vencer sempre.
Se a questão não for central na
próxima campanha, corre-se o risco
de um debate conformista. De certa
forma, Collor abordou o tema, que
era importante no discurso do PT,
em 2002. De lá para cá, as demandas sociais cresceram e os políticos
brasileiros dependem hoje, para
serem respeitados, de uma
nova condição. Os americanos têm
uma palavra enorme para isto:
accountability. Sem ela, não dá
mais.
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