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Eleições limpas
NUMA ELEIÇÃO até aqui
marcada pela apatia dialógica e pelo vazio de
idéias, surge uma modesta boa
notícia: as cidades brasileiras estão limpas. A mudança na lei
eleitoral, que, entre outras medidas tópicas, coibiu a fixação de
material de campanha em locais
públicos, logrou impedir candidatos de sujar a urbe.
Em pleitos passados, postulantes a todos os cargos disputavam
cada naco de poste ou viaduto
para colar seus cartazes. Faziam-no sem respeitar os "direitos" de
quem havia chegado antes.
Quando entrava o mês de setembro, bens públicos das áreas de
maior circulação de pessoas estavam tomados por camadas e
camadas de propaganda.
Há quem lamente o país ter sido poupado de tamanha poluição visual. Reclamam de que,
sem a balbúrdia propagandística, mal se percebe que estamos
em período eleitoral. É possível.
Mas toneladas e toneladas de papel afixado em lugar impróprio
em nada contribuíam para aperfeiçoar o processo democrático.
Sua principal conseqüência era
dar trabalho extra para lixeiros e,
pelo entupimento de bueiros,
aumentar o risco de enchentes.
Com efeito, se por hipótese as
cidades estivessem atulhadas de
faixas e cartazes, nem por isso a
presente eleição seria mais disputada, esclarecedora ou propositiva. Ela continuaria igualmente modorrenta e pobre de propostas, só que suja.
A legislação já dá a candidatos
e partidos instrumentos necessários para promover uma ampla
discussão dos problemas nacionais e de planos para resolvê-los.
Eles dispõem do horário gratuito
no rádio e na TV. Estão autorizados a fazer comícios e participar
de debates. O objetivo de promover um pleito que desperte entre
os eleitores interesse, participação e paixão é perfeitamente
conciliável com a necessidade de
manter a cidade limpa.
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