São Paulo, quinta-feira, 31 de agosto de 2006

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Eleições limpas

NUMA ELEIÇÃO até aqui marcada pela apatia dialógica e pelo vazio de idéias, surge uma modesta boa notícia: as cidades brasileiras estão limpas. A mudança na lei eleitoral, que, entre outras medidas tópicas, coibiu a fixação de material de campanha em locais públicos, logrou impedir candidatos de sujar a urbe.
Em pleitos passados, postulantes a todos os cargos disputavam cada naco de poste ou viaduto para colar seus cartazes. Faziam-no sem respeitar os "direitos" de quem havia chegado antes. Quando entrava o mês de setembro, bens públicos das áreas de maior circulação de pessoas estavam tomados por camadas e camadas de propaganda.
Há quem lamente o país ter sido poupado de tamanha poluição visual. Reclamam de que, sem a balbúrdia propagandística, mal se percebe que estamos em período eleitoral. É possível. Mas toneladas e toneladas de papel afixado em lugar impróprio em nada contribuíam para aperfeiçoar o processo democrático. Sua principal conseqüência era dar trabalho extra para lixeiros e, pelo entupimento de bueiros, aumentar o risco de enchentes.
Com efeito, se por hipótese as cidades estivessem atulhadas de faixas e cartazes, nem por isso a presente eleição seria mais disputada, esclarecedora ou propositiva. Ela continuaria igualmente modorrenta e pobre de propostas, só que suja.
A legislação já dá a candidatos e partidos instrumentos necessários para promover uma ampla discussão dos problemas nacionais e de planos para resolvê-los. Eles dispõem do horário gratuito no rádio e na TV. Estão autorizados a fazer comícios e participar de debates. O objetivo de promover um pleito que desperte entre os eleitores interesse, participação e paixão é perfeitamente conciliável com a necessidade de manter a cidade limpa.


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