São Paulo, sexta-feira, 31 de agosto de 2007

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ELIANE CANTANHÊDE

Teatro do absurdo

BRASÍLIA - Já não se fazem mais Supremos Tribunais Federais como antigamente. Hoje, ministros trocam e-mails durante sessões históricas, tratam os colegas por apelidos jocosos, são suspeitos de acertar voto e, alguns, de delegar seus votos para assessores.
O novo lance, flagrado pela repórter Vera Magalhães, foi o telefonema do novato Ricardo Lewandowski (da leva Lula) em que ele acusa os ministros de não "amaciar para o Dirceu" porque votaram "com a faca no pescoço", "acuados pela imprensa". Os louros pela decisão histórica duraram dois dias e foram triturados em dez minutos.
Os ministros se sentiram atingidos e reagiram mal, evidentemente, exigindo uma manifestação enérgica da presidente do Supremo, Ellen Gracie, que só no meio da tarde soltou uma nota tão formal quanto ela própria.
Quem se deu bem foi Dirceu, que -com toda a razão, diga-se de passagem- agora quer melar o julgamento e, brandindo a Folha, encenou uma inversão de papéis: em vez de réu por corrupção ativa e formação de quadrilha, ele se colocou como vítima num "teatro do absurdo".
A adaptação rápida do roteiro dificilmente vai colar, pois o único voto a favor de Dirceu foi justamente de Lewandowski. Mas dá força para Dirceu exercitar sua forte liderança sobre os setores do PT que não aceitam fatos e insistem na tese da "conspiração da mídia".
Se há conspiração, não é só da mídia. Senão, vejamos: começou com Roberto Jefferson, aliado de Dirceu, ficou sob a mira da imprensa, passou para as CPIs, foi ratificada pelo procurador-geral da República, admitida pelo ministro Joaquim Barbosa (da "elite branca e rica"?) e afinal votada em bloco pelo Supremo. Haja conspiração! Lewandowski lançou suspeição sobre o Supremo. Se o ministro Eros Grau ("Cupido") cumprir a ameaça de processá-lo, ele pode vir a se juntar a Dirceu -como réu.


elianec@uol.com.br

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