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RAUL JUSTE LORES
Rio 2016
SE ATÉ A POLUÍDA , provinciana e desajeitada Pequim se
exibiu bela, moderna e ecológica perante o mundo, fica difícil
não torcer por uma Olimpíada no
Rio de Janeiro.
Depois de cinco décadas de decadência, a cidade poderia embasbacar o planeta com o que já possui
naturalmente. Ibiza, Bangkok e
Dubai tremeriam se o Rio voltasse
a seu esplendor.
A quantidade de vocações desperdiçadas pelo Rio é digna de cidades que não precisam mais de dinheiro, nem de empregos.
O Rio já deveria ser a capital
mundial da cirurgia plástica e do
cuidado com o corpo, com centenas de spas e clínicas internacionais. Miami e várias cidadezinhas
suíças faturam muito com isso,
sem ter Giseles ou Pitanguys como
garotos-propaganda.
Com sua cabeça aberta, Mykonos, Cidade do Cabo e Buenos Aires faturam milhões com os turistas gays -que viajam muito e gastam mais ainda. O Rio tem tudo para superá-las. E, se até um shopping no deserto, como Dubai, faz
sucesso, imagina uma Oscar Freire
à beira-mar?
Com seus velhinhos sacudidos e
esportistas, Copacabana tem a
obrigação de ser referência global
para a melhor idade, com clínicas e
residências especiais para aposentados sortudos de todo o mundo.
A ascendente classe alta negra
americana, que pode ter Obama
como presidente, teria tudo para
cair de amores pelo Rio e conhecer
esse elo afro-americano. Não há
rapper famoso que não tenha gravado um clipe na Cidade Maravilhosa -merchandising gratuito
ainda inexplorado.
Apesar dos 50 anos da Bossa Nova terem se transformado em espetáculos para os VIPs de sempre,
não custa sonhar com um roteiro
de casas de shows que ofereça boa
música nos 365 dias do ano.
Milhares de japoneses, entre outros bons ouvidos, teriam uma programação anual para ouvir bossa
nova, samba e choro ao vivo na
nossa Nova Orleans.
Todas essas indústrias complicariam o fácil recrutamento de jovens pelo narcotráfico. A indústria
turística é limpa e emprega desde
sommeliers, grandes designers e
chefs a jovens com treinamento
mínimo e sorriso no rosto. O Rio
teria oito anos para falar inglês e
aperfeiçoar a hospitalidade.
A cerimônia de abertura não teria o clima de parada militar que se
viu neste ano. Uma junta dos melhores carnavalescos mostraria
evoluções e adereços com animação. Ao contrário de Pequim, teria
multidão na rua dançando com os
atletas noite e dia. E o esporte deixaria de ser apenas manifestação
política de força.
Mas aí acordo do sonho. Não temos a eficiência chinesa. Lembro
da vila pan-americana abandonada, das medalhas de acrílico que se
quebravam no Pan, do "profissionalismo" do COB e da disputa eleitoral no Rio. E 2016 está logo ali
RAUL JUSTE LORES é correspondente em Pequim.
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