São Paulo, domingo, 31 de agosto de 2008

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RAUL JUSTE LORES

Rio 2016

SE ATÉ A POLUÍDA , provinciana e desajeitada Pequim se exibiu bela, moderna e ecológica perante o mundo, fica difícil não torcer por uma Olimpíada no Rio de Janeiro.
Depois de cinco décadas de decadência, a cidade poderia embasbacar o planeta com o que já possui naturalmente. Ibiza, Bangkok e Dubai tremeriam se o Rio voltasse a seu esplendor.
A quantidade de vocações desperdiçadas pelo Rio é digna de cidades que não precisam mais de dinheiro, nem de empregos.
O Rio já deveria ser a capital mundial da cirurgia plástica e do cuidado com o corpo, com centenas de spas e clínicas internacionais. Miami e várias cidadezinhas suíças faturam muito com isso, sem ter Giseles ou Pitanguys como garotos-propaganda.
Com sua cabeça aberta, Mykonos, Cidade do Cabo e Buenos Aires faturam milhões com os turistas gays -que viajam muito e gastam mais ainda. O Rio tem tudo para superá-las. E, se até um shopping no deserto, como Dubai, faz sucesso, imagina uma Oscar Freire à beira-mar?
Com seus velhinhos sacudidos e esportistas, Copacabana tem a obrigação de ser referência global para a melhor idade, com clínicas e residências especiais para aposentados sortudos de todo o mundo.
A ascendente classe alta negra americana, que pode ter Obama como presidente, teria tudo para cair de amores pelo Rio e conhecer esse elo afro-americano. Não há rapper famoso que não tenha gravado um clipe na Cidade Maravilhosa -merchandising gratuito ainda inexplorado.
Apesar dos 50 anos da Bossa Nova terem se transformado em espetáculos para os VIPs de sempre, não custa sonhar com um roteiro de casas de shows que ofereça boa música nos 365 dias do ano.
Milhares de japoneses, entre outros bons ouvidos, teriam uma programação anual para ouvir bossa nova, samba e choro ao vivo na nossa Nova Orleans.
Todas essas indústrias complicariam o fácil recrutamento de jovens pelo narcotráfico. A indústria turística é limpa e emprega desde sommeliers, grandes designers e chefs a jovens com treinamento mínimo e sorriso no rosto. O Rio teria oito anos para falar inglês e aperfeiçoar a hospitalidade.
A cerimônia de abertura não teria o clima de parada militar que se viu neste ano. Uma junta dos melhores carnavalescos mostraria evoluções e adereços com animação. Ao contrário de Pequim, teria multidão na rua dançando com os atletas noite e dia. E o esporte deixaria de ser apenas manifestação política de força.
Mas aí acordo do sonho. Não temos a eficiência chinesa. Lembro da vila pan-americana abandonada, das medalhas de acrílico que se quebravam no Pan, do "profissionalismo" do COB e da disputa eleitoral no Rio. E 2016 está logo ali


RAUL JUSTE LORES é correspondente em Pequim.


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