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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Lula em transe
SÃO PAULO - A um mês da eleição,
o petismo está em festa, mas não há
ninguém mais animado do que o
próprio Lula. Ele não age como
quem quer apenas derrotar José
Serra. Age como quem quer massacrar a oposição. Massacrar politicamente, bem entendido, embora o
que ele diga às vezes faça eco, com
sinais invertidos, à fala truculenta
de Jorge Bornhausen em 2005
-"vamos acabar com aquela raça".
É evidente, de maneira até muito
mais acentuada do que ocorreu em
2006, o clima de desforra que o presidente imprime à campanha atual.
Lula transformou o processo
eleitoral num "road show". Escreve
o roteiro, dirige e protagoniza o espetáculo itinerante da sua aclamação. Vai pulando de cidade em cidade, empenhado em dizimar os
remanescentes "do lado de lá".
E, como a disputa ficou fácil para
a sua candidata, cada palco visitado pelo astro mambembe oferece
uma nova ocasião para sua despedida interminável e novelesca do
poder. Lula, mais do que a plateia,
parece necessitar dessa catarse.
Não sendo candidato, em cima
do palanque ele com frequência
agride o código de conduta burguês. Sua performance fere suscetibilidades tucanas e não deixa de recordar, pelo que mobiliza, algo do
teatro collorido no seu auge.
Pelos exemplos dos últimos comícios, no seu personagem parecem se misturar, quando caminha e
esbraveja pelo palco, o líder sindical, o pai populista e o pregador religioso. Mas seu transe tem método.
A mensagem que o atravessa é
invariavelmente a mesma: a luta
política se trava entre "nós" (o povo, encarnado na sua figura) contra
"eles" (a elite inimiga do povo).
Pouco importa que, na vida real,
parte significativa das elites e das
oligarquias esteja junto com Dilma.
A equação eleitoral que Lula montou se mostrou, afinal, muito eficaz.
Não seria assim, obviamente, se
o conto de fadas da ascensão social
que o próprio Lula representa não
tivesse de alguma maneira se traduzido em realidade para muitos.
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