São Paulo, Terça-feira, 31 de Agosto de 1999
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MISÉRIA CÍCLICA

Há uma lamentável conjunção, tristemente cíclica, entre os efeitos da seca prolongada no semi-árido brasileiro e o descaso político na prevenção de suas mazelas. Na região da Sudene, mais de um terço dos municípios se encontra sob estado de emergência ou calamidade pública. A recuperação insatisfatória dos reservatórios de água após a seca de 98, argumenta-se, provoca a situação.
A fim de exigir mais recursos federais no combate emergencial ao problema, prefeitos da região articulam um "SOS Seca", o que, além da fome, pode provocar tumultos -vide o exemplo do ano passado.
Nem se fale em iniciativa de longo prazo que articule, em um projeto de desenvolvimento regional, pesquisa, tecnologia, infra-estrutura, saúde e educação. A título de reduzir o déficit público, programas emergenciais -distribuição de água e cestas básicas - foram em parte arquivados, sofreram cortes, principalmente no início do ano. O governo federal dizia que as reduções eram "técnicas" e que iam ocorrendo nas regiões onde "já tinha chovido".
Viu-se que as chuvas eram irregulares; em outros casos sabia-se que os açudes não haviam recuperado volume suficiente para dar conta do ciclo habitual de seca. A previdência indicava, portanto, que qualquer meta de ajuste fiscal teria de contar com as mínimas provisões necessárias para dar conta da ameaça muito concreta à vida que é a seca nordestina. A aridez no clima e no espírito do planejador público sempre redunda em recrudescimento de mortalidade infantil, desnutrição e migração desesperada para periferias miseráveis de cidades grandes.
Segundo previsão da própria Sudene, a estiagem tende a se agravar até o final deste ano. O governo federal está, pois, mais uma vez avisado de que a inação poderá redundar em saques, tumulto e mortes.



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