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MISÉRIA CÍCLICA
Há uma lamentável conjunção, tristemente cíclica, entre os efeitos da seca prolongada no semi-árido brasileiro e o descaso político na prevenção de suas mazelas. Na região da
Sudene, mais de um terço dos municípios se encontra sob estado de
emergência ou calamidade pública.
A recuperação insatisfatória dos reservatórios de água após a seca de 98,
argumenta-se, provoca a situação.
A fim de exigir mais recursos federais no combate emergencial ao problema, prefeitos da região articulam
um "SOS Seca", o que, além da fome,
pode provocar tumultos -vide o
exemplo do ano passado.
Nem se fale em iniciativa de longo
prazo que articule, em um projeto de
desenvolvimento regional, pesquisa,
tecnologia, infra-estrutura, saúde e
educação. A título de reduzir o déficit
público, programas emergenciais
-distribuição de água e cestas básicas - foram em parte arquivados,
sofreram cortes, principalmente no
início do ano. O governo federal dizia
que as reduções eram "técnicas" e
que iam ocorrendo nas regiões onde
"já tinha chovido".
Viu-se que as chuvas eram irregulares; em outros casos sabia-se que os
açudes não haviam recuperado volume suficiente para dar conta do ciclo
habitual de seca. A previdência indicava, portanto, que qualquer meta de
ajuste fiscal teria de contar com as
mínimas provisões necessárias para
dar conta da ameaça muito concreta
à vida que é a seca nordestina. A aridez no clima e no espírito do planejador público sempre redunda em recrudescimento de mortalidade infantil, desnutrição e migração desesperada para periferias miseráveis de cidades grandes.
Segundo previsão da própria Sudene, a estiagem tende a se agravar até o
final deste ano. O governo federal está, pois, mais uma vez avisado de que
a inação poderá redundar em saques,
tumulto e mortes.
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