São Paulo, domingo, 31 de outubro de 2004

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COMPROMISSO COM A CIDADE

Hoje, os paulistanos comparecem às urnas para escolher quem estará à frente da prefeitura nos próximos quatro anos. A prefeita Marta Suplicy, que postula a reeleição, considera que melhorou as condições do município ao longo de seu mandato. Não se pode negar que a candidata petista herdou uma cidade em situação crítica, depois da desastrosa gestão de Celso Pitta.
Não foram poucas as esperanças então depositadas em Marta, embora não se imaginasse que resultados mais significativos pudessem aparecer de pronto. De fato, por necessidade ou ardil político -possivelmente ambos-, a prefeita veio a concentrar suas principais realizações no período final do mandato, repetindo uma estratégia consagrada pelo ex-rival Paulo Maluf.
Foi assim que, depois de uma fase inicial em que se procurou ordenar minimamente as finanças municipais, a prefeitura entregou-se a obras de grande visibilidade e à implantação de medidas de impacto, notadamente para as camadas de baixa renda, como os Centros Educacionais Unificados (CEUs), os novos corredores de ônibus e o Bilhete Único.
Esse leque de realizações, que se constituiu no principal patrimônio eleitoral da prefeita, foi acompanhado de uma ampliação dos programas de renda mínima, em parceria com o Estado e o governo federal, e de um sensível aumento do número de atendidos pelo sistema de assistência social, que mais do que dobrou nos últimos quatro anos, contribuindo para fortalecer a popularidade da gestão petista entre os segmentos de menor renda.
Esta Folha manifestou-se favoravelmente aos CEUs, embora considere que essas unidades, bastante custosas, deveriam ser vistas principalmente como centros comunitários de lazer e atividades culturais capazes de contribuir para a inclusão social nas regiões mais pobres de São Paulo. Os CEUs, porém, dragaram recursos que poderiam ter sido aplicados na elevação da qualidade das demais escolas e do ensino municipal. É difícil estabelecer com clareza se a relação custo-benefício de canalizar as verbas para a rede de ensino tradicional teria sido mais vantajosa do que o impacto gerado nas periferias pela criação desses centros de referência.
Em relação ao transporte, a gestão de Marta teve o mérito de investir na qualidade do sistema de ônibus, que ganhou eficiência e rapidez com os chamados Passa-Rápido. Além disso, o Bilhete Único representou uma melhoria palpável para os usuários, especialmente os mais carentes. Subsistem, porém, incertezas sobre a evolução do sistema, pois não está descartada a possibilidade de ele vir a exigir mais subsídios públicos e acarretar aumentos de tarifas.
Os acertos da prefeitura não são suficientes para encobrir situações desalentadoras, como as carências que persistem na área de saúde, as recorrentes irregularidades verificadas nos serviços de varrição e coleta de lixo, para os quais criou-se uma taxa específica, a perpetuação de uma cultura política antiética na Câmara Municipal, o "aparelhamento" da máquina pública, a contratação injustificada de funcionários sem concurso e o abandono de uma linha de gestão financeira que inicialmente se afigurava responsável e austera. São muitos, portanto, os obstáculos a superar -e entre eles o equacionamento da elevada dívida municipal precisará ser tratado como prioridade.
Vença o candidato José Serra ou mereça a prefeita Marta Suplicy a confiança do eleitor para cumprir um novo mandato, esta Folha continuará empenhada em exercer seu papel fiscalizador e crítico e em cobrar que o compromisso com São Paulo e com as aspirações de sua população esteja em primeiro lugar.


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