São Paulo, domingo, 31 de outubro de 2004

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ELIANE CANTANHÊDE

Sem milagres

SÃO PAULO - Why Kerry or Bush? E por que Serra ou Marta? Lá, como cá, há uma esquizofrenia eleitoral: muita paixão, mas sem diferenças expressivas entre os candidatos. Bush é péssimo, mas qual é a de Kerry?
Ele se diz multilateralista e critica Bush por invadir o Iraque sem ouvir a ONU, mas já defendeu enviar tropas para o Haiti mesmo sem apoio da velha organização. O democrata também bate no republicano por fugir das negociações do Protocolo de Kioto (contra gases atmosféricos), mas não se compromete a assiná-lo.
E qual é a mesmo a posição de Kerry sobre o Tribunal Penal Internacional? Tão contra quanto Bush. Porque quem manda é o Congresso, agindo pelo impulso da opinião pública (que não quer americanos julgados em solo alheio) e do grande capital (que não quer conter nem lucros nem gases das suas empresas).
Aqui é parecido. Serra espicaça sua adversária por causa dos CEUs. Cobra "prioridades" e condena a persistência das incríveis escolas de lata. Mas, revejam-se vídeos, textos, entrevistas e em nenhum momento Serra disse que vai acabar com os atuais e não vai fazer os futuros CEUs.
Marta é mais impulsiva, e Serra, mais aplicado, mas os dois seguem o mesmo rumo: investir maciçamente nas periferias, nas escolas, nos professores, no trânsito. Os tempos dos viadutos bilionários vão-se com Maluf.
Por que, então, os americanos se inscreveram freneticamente para votar? E por que Serra-Marta virou um Fla-Flu dos bons tempos cariocas? Deve ser porque eleição é também cor, divertimento, emoção. O dilema paulistano agora é o sol. Nos EUA, o voto não é obrigatório e o povo vai votar. Em São Paulo, o voto é obrigatório e o povo vai para a praia?
Depois, dê Marta ou Serra, o mais provável, é arregaçar a manga e... continuar e aprofundar o que já vinha sendo feito. Nenhum dos dois é Deus, nem há milagre. E o PSDB e o PT estão bem parecidos.


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