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Movido a esperança
JOSÉ SERRA
Depois de tantos anos de militância e de eleições disputadas, é gratificante constatar o entusiasmo
que esta campanha na cidade de São Paulo despertou.
Foram quatro meses sem parar percorrendo a cidade
imensa. Quatro meses de contato intenso, direto, caloroso com as pessoas. Vem delas, do povo, a energia que eu
sinto, como se essa longa jornada estivesse apenas começando. Tomara que esteja começando de fato.
O programa de governo que divulguei no fim do primeiro turno, incorporando as contribuições de centenas
de pessoas, aponta os caminhos para a cidade se vier a
ser seu prefeito nos próximos quatro anos. Está no site
da minha campanha (www.serra45.org.br).
Depois destes meses ouvindo os paulistanos, dos
maiores especialistas à gente nas ruas, tenho certeza de
uma coisa: recursos e boas idéias não faltam para dar o
salto de qualidade que há anos nossa cidade precisa e espera. Têm faltado -e isso é o que eu espero levar para a
prefeitura- planejamento, prioridades, capacidade de
usar bem os recursos e tirar as boas idéias do papel.
A condição fundamental para fazer isso é respeitar a cidade, mostrando respeito pelos valores republicanos
que seus moradores querem ver prestigiados. Entender,
antes de mais nada, que a prefeitura não é propriedade
de um partido político ou de grupos. Que o prefeito e cada um de seus colaboradores estão lá para servir ao público, a todos os cidadãos, não a si mesmos nem a seus
amigos e companheiros. Governar São Paulo com espírito republicano implica reconhecer que o tamanho e a
complexidade dos problemas da cidade são incompatíveis com a improvisação. Exigem, em primeiro lugar,
planejamento: continuidade das ações e inovações tecnicamente consistentes, bem projetadas e executadas,
dentro da indispensável articulação com os municípios
da macrorregião e com o governo do Estado.
Em segundo lugar, administrar bem a cidade requer
prioridades claras. Quando tudo é prioridade na teoria,
nada é prioridade na prática; os recursos se fragmentam,
os resultados não aparecem e alguns setores são prejudicados, como aconteceu com a saúde na cidade. Hierarquizar as demandas é essencial para empregar bem o dinheiro público.
Em terceiro lugar, quando o governo precisa se financiar, sem criar impostos e sem ir a mercado porque há limites legais de endividamento, a opção correta é a parceria, tanto com os governos estadual e federal quanto com
a sociedade, ONGs, igrejas, iniciativa privada. Para ser
um bom parceiro, a prefeitura tem de evitar a manipulação e tornar claras as regras do jogo. Além de as cumprir.
Em quarto lugar, a difícil situação financeira da prefeitura vai exigir muita parcimônia nos gastos. Há muita
gordura para cortar. É preciso acabar com o desperdício
e o sobrefaturamento generalizados, seja por duplicação
de atividades, seja por tarefas mal feitas ou feitas às pressas, seja devido a outros interesses menos conspícuos.
Nessa matéria, aliás, a atual prefeitura do PT (ao contrário da de Luiza Erundina) nada ficou devendo às de Pitta
e Maluf.
Por fim, fazer a prefeitura funcionar direito implica trabalhar pelas prioridades da cidade o tempo todo, desde o
primeiro dia e da primeira hora do mandato do prefeito.
A experiência da atual gestão mostra que a estratégia de
só trabalhar no último ano não funciona, pois posterga o
atendimento das necessidades essenciais, faz obras de
improviso, mal feitas, como os túneis e a Radial Leste, e
mais caras. Funcionar direito implica também , antes de
inventar projetos mirabolantes, fazer funcionar melhor
tudo o que já existe. Extrair o máximo rendimento e eficiência dos equipamentos instalados é o que faz um prefeito que trabalha desde a primeira hora, e não em função do calendário eleitoral.
A grande tarefa de um prefeito é cuidar do bem-estar
das pessoas. Sem o partidarismo nem a politicagem que
levam à dilapidação dos recursos públicos. Sem o paternalismo que tenta transformar em dádiva o que é direito
dos cidadãos. São Paulo tem prioridades urgentes. As
pessoas -as mães, as crianças, os jovens, os enfermos,
os idosos, os desempregados, as famílias preocupadas
com a violência, os paulistanos que perdem horas no
trânsito todos os dias- não podem esperar. Elas exigem
cidadania já. É para responder a essa exigência que a prefeitura deve trabalhar em primeiro lugar.
Ao mesmo tempo, para se firmar na posição de capital
empresarial e cultural da América do Sul, São Paulo precisa de uma estratégia de desenvolvimento que reforce
os atrativos e atenue os problemas que podem afastar
dela os centros de decisão das grandes empresas e os
produtores de cultura.
Além de um gestor competente dos serviços essenciais,
o prefeito deve ser o coordenador dos grandes projetos
estruturantes que vão definir a cara de São Paulo dentro
de dez, 20 anos e um articulador das alianças necessárias
para dar continuidade a esses projetos. Articulador da
parceria com o governo do Estado, em especial, indispensável para equacionar os problemas da cidade na escala da região metropolitana.
Essas são as bases do meu compromisso com São Paulo. A luta que vejo pela frente não termina no dia da eleição. Recomeça ali, se assim decidirem as urnas. Escrevo
este artigo imbuído do sentimento de esperança que colhi nos apertos de mãos, nos abraços e nos olhos das pessoas nas ruas, nos bairros mais distantes da nossa cidade.
Sinto que preciso, que tenho o dever de voltar lá com
boas notícias. Gostaria de fazê-lo como prefeito.
José Serra, 62, é o candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo. Foi senador pelo PSDB-SP (1995-2002) e ministro do Planejamento e da Saúde (governo Fernando Henrique).
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