São Paulo, quarta-feira, 31 de outubro de 2007

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"Apenas" estabilidade

Só os termos do novo acordo com a Bolívia poderão elucidar o que levaria a Petrobras a investir naquele país

O BRASIL negocia com a Bolívia a possibilidade de a Petrobras voltar a investir em gás natural no país vizinho. Para Marco Aurélio Garcia, assessor do presidente Lula para temas internacionais, o retorno depende "apenas" de haver estabilidade para investimentos na nação andina.
Desde que assumiu a Presidência, em janeiro de 2006, Evo Morales marchou no sentido contrário. Tanto fez que a Bolívia se tornou um dos territórios mais arriscados para empresas estrangeiras imobilizarem capital. E a Petrobras, maior investidora em solo boliviano, foi a vítima preferencial do populismo do ex-líder cocaleiro.
Em maio do ano passado, Morales mandou o Exército ocupar instalações da estatal brasileira -a pantomima marcou a nacionalização dos hidrocarbonetos e o arrocho tributário nas multinacionais. O governo "revolucionário" também seqüestrou o fluxo de caixa de duas refinarias da Petrobras, depois vendidas (à força) por preço módico ao Estado boliviano.
O que terá mudado para que Marco Aurélio Garcia -cuja eficiência como preposto de Lula para a América Latina está para ser demonstrada- possa festejar a reaproximação dos dois países? Na falta dos termos do propalado acordo para o retorno da Petrobras aos investimentos na Bolívia, no campo de gás de Itaú (sul), restam apenas especulações.
No balanço de perdas e ganhos entre Brasil e Bolívia, desde o início estava claro que o país andino teria mais a perder com a aventura nacionalista de Morales. O impacto para a economia brasileira poderia vir na forma do encarecimento, em curto prazo, da energia. Mas a perspectiva de estagnação da fonte boliviana já estimulou famílias, empresas e governo a buscar um novo arranjo energético: freio no uso do gás e sua substituição por outros combustíveis, aumento da prospecção de gás no Brasil, importação do produto liquefeito.
À Bolívia restava comemorar o aumento das receitas fiscais no curto prazo. Sem capital, sem tecnologia e sem a confiança de seu principal mercado (o Brasil), a perspectiva para o futuro do país mais pobre da América do Sul, que depende do subsolo, é sombria. Morales não sabe como fará, por exemplo, para dobrar o fornecimento de gás à Argentina em três anos, conforme acordo com o governo Kirchner.
Talvez o presidente da Bolívia tenha sido acometido por um choque súbito de realidade. Em se tratando de Evo Morales, vale a recomendação atribuída a Floriano Peixoto: vamos confiar, desconfiando.


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