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"Apenas" estabilidade
Só os termos do novo acordo com a Bolívia poderão elucidar o que levaria a Petrobras a investir naquele país
O BRASIL negocia com a
Bolívia a possibilidade
de a Petrobras voltar a
investir em gás natural
no país vizinho. Para Marco Aurélio Garcia, assessor do presidente Lula para temas internacionais, o retorno depende "apenas" de haver estabilidade para
investimentos na nação andina.
Desde que assumiu a Presidência, em janeiro de 2006, Evo Morales marchou no
sentido contrário. Tanto fez que
a Bolívia se tornou um dos territórios mais arriscados para empresas estrangeiras imobilizarem
capital. E a Petrobras, maior
investidora em
solo boliviano,
foi a vítima preferencial do populismo do ex-líder cocaleiro.
Em maio do
ano passado, Morales mandou o
Exército ocupar instalações da
estatal brasileira -a pantomima
marcou a nacionalização dos hidrocarbonetos e o arrocho tributário nas multinacionais. O governo "revolucionário" também
seqüestrou o fluxo de caixa de
duas refinarias da Petrobras, depois vendidas (à força) por preço
módico ao Estado boliviano.
O que terá mudado para que
Marco Aurélio Garcia -cuja eficiência como preposto de Lula
para a América Latina está para
ser demonstrada- possa festejar
a reaproximação dos dois países?
Na falta dos termos do propalado
acordo para o retorno da Petrobras aos investimentos na Bolívia, no campo de gás de Itaú (sul),
restam apenas especulações.
No balanço de perdas e ganhos
entre Brasil e Bolívia, desde o início estava claro que o país andino
teria mais a perder com a aventura nacionalista de Morales. O
impacto para a economia brasileira poderia vir na forma do encarecimento, em curto prazo, da
energia. Mas a perspectiva de estagnação da fonte boliviana já estimulou famílias, empresas e governo a buscar um novo arranjo
energético: freio no uso do gás e
sua substituição
por outros combustíveis, aumento da prospecção de gás no
Brasil, importação do produto
liquefeito.
À Bolívia restava comemorar
o aumento das
receitas fiscais
no curto prazo.
Sem capital, sem
tecnologia e sem
a confiança de
seu principal
mercado (o Brasil), a perspectiva para o futuro
do país mais pobre da América
do Sul, que depende do subsolo, é
sombria. Morales não sabe como
fará, por exemplo, para dobrar o
fornecimento de gás à Argentina
em três anos, conforme acordo
com o governo Kirchner.
Talvez o presidente da Bolívia
tenha sido acometido por um
choque súbito de realidade. Em
se tratando de Evo Morales, vale
a recomendação atribuída a Floriano Peixoto: vamos confiar,
desconfiando.
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