|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Fidelidade partidária e democracia
PAULO MALUF
Os próprios partidos políticos só conseguirão se desenvolver e ficar fortes
por meio da prática da fidelidade partidária
A DECISÃO do Supremo Tribunal Federal sobre a obrigatoriedade da fidelidade partidária e as decisões regulamentadoras do
Tribunal Superior Eleitoral sobre o
mesmo assunto recolocam os partidos políticos do Brasil no lugar que
sempre deveria ser o deles. É sempre
assim nas democracias.
Um país com partidos políticos fortes, com conteúdo programático claro
e visível, é o melhor suporte para a democracia se amparar e ficar cada vez
mais sólida e permanente.
Dentro dos partidos políticos é que
se formam homens públicos que têm
a responsabilidade de melhorar a vida
das pessoas. É também dentro dos
partidos políticos que se desenvolvem o pluralismo, a discussão de
idéias e de caminhos melhores para a
solução dos problemas sociais.
Os próprios partidos políticos só
conseguirão se desenvolver e ficar
fortes por meio da prática da fidelidade partidária, pois é ela que garantirá
que aqueles que militam em cada
agremiação política sigam os preceitos que cada programa partidário determina a seus filiados.
Como é possível, para ficarmos
num exemplo só, que 156 prefeitos
em todo o Brasil tenham trocado de
partido, mesmo depois da decisão de
março deste ano, do TSE, de que a fidelidade partidária estava restabelecida? E que, de 2004 até agora, 431 entre os 5.562 prefeitos eleitos tenham
optado pela troca de partido?
Há 40 anos estou na vida política e
sempre fui um homem público de um
único partido. Aprendi a fazer política
dentro de meu partido e acredito que
o grande número de votos próprios
que possuo advenha em muito dessa
fidelidade àquilo que meu partido
preceitua.
Partido político não é um balcão de
negócios para que seus militantes
possam usar como moeda de troca, ao
sabor dos interesses, não dos partidos
e do país, mas daqueles que trocam o
cargo eletivo que possuem ao sabor
de conveniências pessoais sempre
suspeitas.
A fidelidade partidária acabou em
1984, acho que por minha causa, como um dos motivos para impedir minha vitória no colégio eleitoral que
iria eleger o presidente da República.
Em 6 de novembro de 1984, respondendo a uma consulta do deputado
Gerardo Renault (PDS-MG), o TSE
decidiu que os membros do então colégio eleitoral ficariam desobrigados
do compromisso da fidelidade partidária. O próprio ministro-chefe da
Casa Civil do governo de João Baptista Figueiredo, Leitão de Abreu, opinou ser favorável ao fim da fidelidade
partidária para ajudar o TSE a decretar a medida.
Vários pedidos encaminhados ao
TSE tentaram impedir a validade da
decisão de acabar com a fidelidade
partidária. Em vão.
No dia 4 de dezembro daquele ano,
o Tribunal Superior Eleitoral julgou a
medida definitiva; estava assim terminada no Brasil a fidelidade dos eleitos a seus partidos políticos.
Nem por isso abandonei a disputa e
fui até o fim do processo eletivo, que
foi uma forma de dar legitimidade à
eleição que se disputava.
Sem a minha presença, me disseram muitos, poderia haver tentativa
de uma saída não institucional para a
eleição, com a intervenção de quem
poderia defender que a participação
de candidato único não seria legitima.
Na democracia perene em que agora estamos, a fidelidade partidária é
muito mais importante que naquele
episódio sobre o qual acabo de falar.
Pois é a democracia, fortalecida por
partidos políticos fortes e transparentes, que assegura ao Brasil a vida
democrática e impedirá a volta de
qualquer regime de exceção.
Para nossa felicidade, foi a própria
Justiça, no Tribunal Superior Eleitoral, presidido pelo ilustre ministro
Marco Aurélio Mello, a responsável
pela volta da fidelidade partidária.
O uso da famosa frase de Winston
Churchill, "democracia não é a melhor forma de governo que existe, só
que não há outra mais perfeita", já virou até clichê. Mas, de certa forma, a
perenidade da frase é o melhor exemplo de que o caminho democrático é o
melhor para ser trilhado.
É dentro dos partidos políticos que
se aprende esse caminhar. Com disciplina, idealismo, adesão a causas nobres e praticando o ideal democrático
para que o Brasil encontre rapidamente o acelerado crescimento com
justiça social.
PAULO SALIM MALUF, 75, engenheiro, é deputado federal pelo PP-SP. Foi governador de São Paulo (1979-1982) e prefeito da cidade de São Paulo (1969-1971, 1993-1996).
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br
Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Luiz Flávio Borges D'urso: Transformando a verdade inconveniente Próximo Texto: Painel do Leitor Índice
|