São Paulo, sábado, 31 de dezembro de 2005

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LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

Na verdade, a paz

Este é o tema da primeira mensagem do papa Bento 16 para o "Dia Mundial da Paz". Seguindo o exemplo dos papas Paulo 6º e João Paulo 2º, o atual Santo Padre convida a humanidade a se "empenhar numa intensa e capilar obra de educação e testemunho que faça crescer em cada pessoa a urgência de descobrir sempre mais profundamente a verdade da paz".
A afirmação fundamental é que a "pessoa que se deixa iluminar pelo esplendor da verdade empreende quase naturalmente o caminho da paz".
A paz é "fruto da ordem que o Divino Criador estabeleceu para a sociedade humana". Na busca da paz, não pode faltar a abertura ao transcendente, o respeito no diálogo e a tutela dos direitos fundamentais. Deus, e só Ele, sustenta o empenho pela paz. Sem a referência a Deus, que é inseparavelmente verdade e amor, a humanidade fica empobrecida e frustrada.
O papa Bento 16 exorta os cristãos a voltar o olhar para o Divino Mestre, que se declara a Verdade em pessoa. Os discípulos são chamados a confiar em Cristo e "cultivar relações fecundas e sinceras, a percorrer caminhos do perdão e da reconciliação, a ser transparentes e fiéis nas conversas e à palavra dada".
Diante do ideal de uma humanidade que promova a paz, os cristãos devem se unir numa ampla colaboração ecumênica e com as outras religiões e todas as pessoas de boa vontade.
A esse respeito, o papa Bento 16, dirigindo-se, na véspera de Natal, aos peregrinos na praça de São Pedro, revelou mais uma vez a beleza da infinita misericórdia divina, mostrando que os que, seguindo a própria consciência, colocam-se a serviço da paz, mesmo que ainda não tenham o conforto de conhecerem a Deus, estão no caminho da salvação.
É, no entanto, necessário que ao lado dos sinais promissores de construção da paz, identifiquemos graves obstáculos à convivência pacífica da humanidade. Causa temor e insegurança o perigo das armas nucleares cada vez mais difundidas. Os governos não deveriam investir na produção de armas, mas de mútuo acordo promover o progressivo desarmamento nuclear. Como conseguir a paz quando países continuam a se destruir com ataques recíprocos, acarretando a morte de tantos inocentes? Diante dos atos terroristas o papa recorda as exortações de João Paulo 2º, alertando sobre o desespero pela vida que compromete o futuro da humanidade.
Entre os obstáculos à paz, temos que identificar as teorias como o niilismo, que nega a existência de qualquer verdade, e o erro do fanatismo religioso, que pretende impor a doutrina com a força, violentando a liberdade de consciência.
Nossos tempos aguardam palavras de verdade e paz que alimentem a esperança de um mundo diferente, capaz de reconciliação, respeito e solidariedade. Procuremos todos aprender o caminho do diálogo na verdade e a união em promover os valores da justiça e da liberdade.
Nesta semana, comemorando a Sagrada Família, Jesus, Maria e José, pedimos que alcancem em 2006 para todos os lares maior compreensão e sinceridade no amor, na vida conjugal e familiar.
O empenho coletivo pela paz é indispensável, mas não bastam as forças humanas. Temos que recorrer a Deus, pois só Ele nos ajudará a vencer o ódio, a inveja, os ressentimentos e a abrir o coração ao perdão, à concórdia e à alegria de fazer o bem.


Dom Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.


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