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Crítica

Ação da luta armada ganha livro em ritmo de 'thriller'

BERNARDO MELLO FRANCO
DE SÃO PAULO

Encantado com Che Guevara, um secundarista carioca entrega um segredo de família para tentar ajudar a esquerda armada a derrubar a ditadura militar.

Este é o enredo inicial de "O cofre do Dr. Rui", que narra uma das ações mais ousadas da guerrilha brasileira: o roubo do cofre do ex-governador paulista Adhemar de Barros, em julho de 1969.

A operação foi idealizada pela VAR-Palmares, organização à qual pertenceu a presidente Dilma Rousseff, como solução para financiar suas atividades clandestinas e ajudar militantes no exílio.

O roubo deu certo, mas as disputas pela partilha do dinheiro e a perseguição implacável do regime lançariam uma espécie de maldição sobre os envolvidos no plano, como narra o autor Tom Cardoso em ritmo de "thriller".

O "dr. Rui" do título era o codinome usado por Adhemar -um populista de direita que inaugurou o rótulo de "Rouba, mas faz"- para disfarçar a identidade da amante Ana Capriglione.

Após a morte do político, exilado em Paris, ela herdaria parte da mitológica "caixinha do Adhemar", uma fortuna de caixa dois e corrupção que chegou a ser cantada em marchinha de carnaval.

Ana escondeu quase US$ 2,6 milhões (hoje equivalentes a cerca de US$ 15 milhões) na mansão de um irmão em Santa Teresa, no Rio, onde morava o estudante afobado para acelerar a revolução.

Os tropeços já começariam na contagem das notas, quando guerrilheiros mais empolgados, como o ex-ministro Carlos Minc (Meio Ambiente), teriam sugerido uma festa regada a vinho e camarões num bar da zona sul -a ideia foi derrotada em votação.

Depois, viria uma série de prisões, mortes e exílios. Em um ano, só dois dos 11 participantes do roubo ainda resistiam na luta armada.

Dilma, que não integra esta lista, teve papel lateral. Ficou fora da ação e recebeu a tarefa de trocar US$ 1.000 numa casa de câmbio, fingindo sotaque estrangeiro. No ano seguinte, seria presa com outra quantia pequena.

O uso de sua foto na capa, como apelo comercial, é um dos pecados do livro.

Hábil na narrativa, o autor às vezes exagera nos recursos de ficção, como a "reprodução" de longas falas de personagens que não entrevistou.

Logo na abertura, põe intelectuais e diretores do cinema novo na mesa ao lado dos guerrilheiros, transformando um cenário de reunião secreta numa espécie de parque temático da boemia de Ipanema nos anos 60.

A história já despertaria interesse sem esses truques.

O COFRE DO DR. RUI

AUTOR Tom Cardoso

EDITORA Civilização Brasileira

QUANTO R$ 29,90 (176 págs.)

CLASSIFICAÇÃO Bom

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