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Rui Falcão - Presidente do PT

Realizar prévias para escolher candidato não é obrigação do PT

DIRIGENTE NEGA QUE LULA IMPONHA SUAS VONTADES AO PARTIDO E CRITICA FHC

BERNARDO MELLO FRANCO
DE SÃO PAULO

Em meio a críticas pelo enterro das prévias em São Paulo, o presidente do PT, Rui Falcão, disse que promover consultas aos filiados para escolher candidatos "não é obrigação" dos petistas.

Ele defendeu novos acordos para evitar eleições internas em outras capitais, como Fortaleza, e negou que o ex-presidente Lula tenha virado um "supercacique" no PT: "Ele nunca impôs nada."

Leia abaixo os principais trechos da entrevista.

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Folha - Depois de o PT cancelar as prévias em São Paulo e Porto Alegre, o sr. vai tratar do assunto em Fortaleza. A ordem é abortar as consultas aos filiados em todo o país?

Rui Falcão - O PT foi pioneiro na escolha de candidatos através das prévias, mas elas não são uma obrigação. São uma possibilidade final, quando há mais de um candidato e nenhuma expectativa de composição.

É possível que algumas cidades realizem prévias [em 2012], mas é claro que o nosso esforço é para compatibilizar acordos. Em São Paulo, as prévias estavam marcadas para 27 de novembro. Como os candidatos fizeram acordo, ficou desnecessário.

Em Fortaleza, tínhamos 13 candidatos, e agora são cinco. Se no final houver mais de um, vamos fazer as prévias.

Em São Paulo, a senadora Marta Suplicy queria enfrentar o ministro Fernando Haddad. Parece ter havido mais imposição do que acordo.

Não houve imposição. Quem quisesse poderia disputar as prévias. Houve um processo de convencimento.

A opinião do Lula e de outros dirigentes mostrou aos postulantes que o Haddad já reunia uma maioria. As pessoas faziam o cálculo de que ir para a disputa era marcação de posição.

O PT se orgulhava de realizar prévias porque isso o faria ser mais democrático. O partido ficou igual aos outros?

Nós continuamos nos orgulhando dos nossos processos democráticos. Das prévias, dos congressos, dos métodos de direção coletiva. Neste aspecto, nada mudou.

Lula virou um "supercacique" no PT, a exemplo de outros políticos que parecem ser donos de seus partidos?

Ele é um símbolo. A mesma aprovação que o Lula tem na sociedade brasileira ele tem entre os filiados do PT.

Embora dê suas opiniões, ele respeita as decisões da maioria. Lula nunca impôs nada ao partido. Isso garante o respeito dos filiados e a grande influência que ele tem sobre o PT.

Ele costuma dizer que o partido precisa se renovar após sucessivas derrotas em São Paulo. A escolha de Haddad fará o PT voltar a vencer?

Queremos reconquistar a Prefeitura para tirar os tucanos do ninho do Morumbi [onde fica o Palácio dos Bandeirantes, sede do governo estadual]. Por isso, esta eleição é decisiva para nós.

Há uma certa fadiga de material. O fato de os tucanos estarem reconhecendo que não têm lideranças de porte para disputar na capital é um sintoma do desgaste.

Esta eleição terá um peso muito grande para o nosso objetivo de 2014 no Estado. Nas pesquisas que fizemos, a população não fala necessariamente num candidato novo, mas num novo estilo de governar. O perfil do Haddad corresponde a este dado. O Lula intuiu isso, e as pesquisas estão confirmando.

Marta parece muito magoada. Como fica sua situação no PT?

Ela está à disposição do partido para participar da campanha, como disse em entrevista recente. Eu pretendo conversar com ela e, além de São Paulo, quero ver se ela disponibiliza agenda para eventos em outros Estados.

O alto índice de rejeição foi o que a levou a ser preterida?

Quando você tem lideranças muito fortes, que participam de várias eleições, ao mesmo tempo em que aumenta o nível de conhecimento aumenta também a rejeição. Isso não é característica apenas da Marta. Há o Ciro Gomes, o José Serra...

Que muitos analistas apontam como políticos em decadência.

Não acredito que estejam. O Serra, inclusive, pode ser candidato em São Paulo. As manobras de adiamento de consulta, declarações depreciativas em relação aos pré-candidatos, abrem a possibilidade de o PSDB ficar à espera dele até o último momento. Já ocorreu outras vezes.

O encolhimento da oposição tornará o governo Dilma menos refém de alianças fisiológicas do que foi Lula?

Não somos reféns de nenhum partido fisiológico. Lamentamos que a oposição esteja sem projeto após ter suas ideias vencidas em três eleições. E seu novo projeto não pode ser falar inglês com o povo brasileiro.

O sr. se refere à ideia do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso de adotar o lema "Yes we care" ("Sim, nós cuidamos"), inspirado no "Yes we can" de Barack Obama?

É. Isso demonstra que eles continuam sem perspectivas, não estão entendendo o que se passa no país hoje.

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