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Análise - Mensagem do papa

Recado é ao espírito, mas não omite a corrupção

Eixo central da fala do papa são valores imateriais, como a 'fome que só Deus pode saciar'; solidariedade é enfatizada

CLÓVIS ROSSI COLUNISTA DA FOLHA

O papa Francisco incluiu na mensagem ao Brasil, a partir da comunidade da Varginha, um estímulo aos jovens para que perseverem no combate à corrupção, em um texto dirigido essencialmente ao espírito e não ao corpo, ao contrário, por exemplo, da retórica da Teologia da Libertação, a corrente da igreja supostamente mais dedicada à questão social.

A fala do sumo pontífice pode ser até interpretada como um apelo para que prossigam as manifestações, de resto apoiadas pela hierarquia da igreja no Brasil.

Francisco pediu que os jovens não se desiludam "com notícias que falam de corrupção, com pessoas que, em vez de buscar o bem comum, procuram o seu próprio benefício".

É a parte mais política do discurso, cujo eixo central são valores imateriais, o que é coerente, de resto, com trechos de suas falas anteriores desde a chegada ao Rio.

Tanto é assim que o papa colocou acima da fome concreta de estômagos vazios "uma fome mais profunda", e esta, acrescentou, "só Deus pode saciar".

Mesmo na menção aos pilares fundamentais de uma sociedade predominam valores como família, "educação integral" e saúde, inclusive a espiritual. Até a violência, fenômeno que certamente inferniza a vida da comunidade, "só é vencida a partir da mudança do coração", disse o papa.

Solidariedade foi outro valor enfatizado, para o que o papa recorreu a uma velha e conhecida frase popular, a de que, em caso de necessidade de alimentar mais uma boca, basta adicionar água ao feijão. Em termos menos populares, deixou claro que compartilhar não é ficar mais pobre, mas enriquecer.

Ou seja, o valor da solidariedade, que impregna o catolicismo (e todas as religiões), supera os bens materiais. É uma mensagem tradicional da igreja, mas muito difícil de vender ao público em uma era de consumismo e hedonismo.

No mais, o papa disse o óbvio e o que todos os seus antecessores de uma maneira ou outra já disseram, ao fazer "um apelo a quem tem mais recursos, às autoridades públicas e a todos os homens de boa vontade empenhados na justiça social: não se cansem de trabalhar por um mundo mais justo e solidário. Ninguém pode permanecer insensível às desigualdades que ainda existem no mundo".

Desde pelo menos a encíclica "Rerum Novarum", de Leão 13, publicada em 1891, é essa a pregação da igreja, o que não impediu que as desigualdades continuassem e, pior, se ampliassem, nos anos mais recentes, em alguns países ricos, antes menos desiguais.

O papa certamente diria, a propósito, que a causa é a falta de um Deus capaz de saciar a fome de felicidade.

De forma indireta, Francisco deu aval à proposta que a presidente Dilma Rousseff lhe fez, de colaboração em iniciativas contra a pobreza. O papa ofereceu "colaboração a qualquer iniciativa que possa significar um verdadeiro desenvolvimento de cada homem".

No conjunto, uma mensagem atemporal, como costuma ser próprio da igreja.


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