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O Papa no Brasil

Análise

Doutrina de Francisco enfatiza a identificação de Cristo com os pobres

Ao chamar a atenção para os marginalizados, papa retoma Teologia da Libertação, mas sem propor reforma estrutural

REINALDO JOSÉ LOPES COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Muita gente ficou se perguntando o que significaria, afinal, "uma igreja pobre e para os pobres" quando o papa Francisco usou essa frase como uma espécie de programa de governo para o seu pontificado. Os dias do sumo pontífice no Rio ajudaram a esclarecer essa dúvida: para o papa, o pobre "é" Cristo.

É lógico que, a rigor, não há nada de novo nessa visão. Em uma de suas falas no Brasil, Francisco usou um trecho do Evangelho de Mateus (escrito no século 1º da nossa era) que mostra como a identificação dos marginalizados com o divino está na raiz da fé cristã. No Juízo Final, ao separar quem se salva de quem será condenado, Cristo diz que só quem alimentou os famintos, vestiu os que não tinham roupa e visitou doentes e presos vai se salvar.

"Toda vez que fizestes isso ao mais humilde desses meus irmãos, foi a mim que o fizestes", citou o papa.

Trata-se de uma visão essencialmente espiritual dos problemas sociais, portanto, mas que também funciona como um chamado à ação. Não é à toa que o papa, ao visitar jovens lutando contra o vício em drogas no Rio, recordou a ação mais chocante e simbólica do santo que inspirou seu "nome de papa": são Francisco de Assis fazia questão de abraçar e beijar os leprosos de seu tempo.

"Pobres", no sentido evangélico, são todos os marginalizados, e Francisco fez uma lista deles em seu discurso após a Via Sacra de sexta-feira: vítimas de violência, famílias cujos filhos sofrem com as drogas, os que passam fome num mundo de abundância, quem é perseguido "pela religião, pelas ideias ou simplesmente pela cor da pele". Essas pessoas, insistiu o papa durante sua visita, são "a carne de Cristo".

Nesse ponto, a aproximação do papa com os temas da Teologia da Libertação é clara, mas Francisco também enfatizou, como antídoto para as injustiças, a conversão pessoal de cada ser humano, a disposição para "botar água no feijão" e dividi-lo com os outros, olhando menos para estruturas sociais injustas --o que se pode interpretar como uma análise essencialmente conservadora do problema.

PÁROCO PLANETÁRIO

Chama a atenção a maneira como Francisco passa a sua mensagem, com um discurso didático e sucinto que lembra o de um bom pároco do interior --aquele sujeito que volta e meia vai almoçar na casa dos fiéis e aproveita a visita para ajudar um casal briguento a se reconciliar.

Desde que se tornou papa, Bergoglio usa o púlpito com esse estilo para martelar alguns temas clássicos do catolicismo: a misericórdia infinita de Deus com os pecadores; a força transformadora da fé em Cristo; a alegria que deve acompanhar a vida cristã. "Não se cansem de pedir perdão" provavelmente é a frase que ele mais repetiu nesses meses de pontificado.

Francisco mostrou ainda forte conexão com a devoção popular latino-americana (o que faz sentido, vindo de onde vem). A opção é sincera, mas também estratégica, pois a fé nos santos e em Maria ainda é um dos aspectos do catolicismo brasileiro com grande vitalidade mesmo diante da expansão evangélica.

Finalmente, o sumo pontífice praticamente não tocou nos temas de moral sexual e pessoal --anticoncepcionais, aborto, casamento gay, eutanásia-- que são os que mais dividem os católicos hoje. Enfatizou o lado positivo dessas questões, do ponto de vista da Igreja (a importância da família, dos jovens, dos idosos), mas manteve distância das condenações veementes.


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