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Análise

O Papa no Brasil

Papa aposta no fim das divisões internas

Correntes criticadas por Francisco em discurso foram, frequentemente, patrocinadas pelos seus predecessores

REINALDO JOSÉ LOPES COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O discurso que o papa Francisco fez aos representantes da Celam, a conferência dos bispos da América Latina, tem boas chances de fazer dele o pontífice com o programa mais claro para transcender a dicotomia entre "liberais" e "conservadores" que marcou o catolicismo no último meio século.

Na fala densa, recheada de referências a antigas heresias cristãs e a escolas de pensamento modernas, ele exigiu que os bispos dessem mais espaço para a participação dos fiéis leigos nos rumos da Igreja Católica, cobrou compromisso com a pobreza "quer interior, quer exterior" por parte dos líderes católicos e afirmou que a lealdade deles deveria estar não com a igreja como instituição, mas sim com o "povo de Deus".

Esse conteúdo programático decerto agradará aos católicos que se ressentiram do caráter centralizador dos pontificados de João Paulo 2º e Bento 16, mas Francisco também fez questão de condenar quem deseja transformar a igreja em ONG ou quem tenta retirar o conteúdo espiritual da fé cristã e transformá-la em ideologia secular, "desde o liberalismo de mercado até a categorização marxista" (nesse ponto, mantendo uma distância deliberada tanto de extremos de "direita" quanto de "esquerda").

É significativa a lista do que Francisco louva como experiências positivas de participação dos leigos na igreja latino-americana. Em primeiro lugar, diz ele, "em nossas terras, existe uma forma de liberdade laical [dos leigos] por meio de experiências de povo: o católico como povo. Aqui se vê uma maior autonomia, geralmente sadia, que se expressa fundamentalmente na piedade popular" (o culto aos santos e à Virgem, por exemplo) --nada surpreendente considerando-se sua visita a Aparecida.

Mais interessante é ele afirmar que "grupos bíblicos, comunidades eclesiais de base e conselhos pastorais" são bons modelos, no continente, de leigos que superaram o "clericalismo" e ganharam responsabilidades na igreja.

Isso porque as comunidades eclesiais de base, fortemente ligadas à Teologia da Liberação, ficaram relativamente esquecidas nos últimos pontificados.

Em vários momentos da fala, Francisco criticou ainda a tentação de restaurar métodos pastorais que funcionaram no passado e já não respondem ao presente.

A linguagem de hoje não é mais a "cultural rural" na qual o catolicismo reinava absoluto, afirma.

Nesse sentido, surpreende sua menção crítica "a pequenos grupos [e] algumas novas congregações religiosas", que teriam "tendências para a segurança' doutrinal ou disciplinar", donos de uma visão "fundamentalmente estática", que "regride".

Grupos como esses foram, com frequência, "patrocinados" pelos predecessores de Francisco.


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