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Medo da crise faz governo apressar pacote de estímulo

Medidas tentam evitar que desânimo de empresários e consumidores esfrie demais a economia no próximo ano

Redução de impostos para eletrodomésticos e crédito ao consumidor pode reativar demanda durante alguns meses

DE BRASÍLIA
DE SÃO PAULO

O agravamento da crise externa fez o governo apressar um pacote de medidas de estímulo da economia para tentar reverter o clima de desânimo que começa a se alastrar entre empresários e consumidores.

O objetivo das medidas é reverter o desaquecimento sofrido pela economia brasileira no fim deste ano e criar condições para que o país volte a crescer num ritmo mais acelerado nos primeiros meses do próximo ano.

O governo reduziu impostos cobrados nos empréstimos a pessoas físicas, aplicações de investidores estrangeiros em ações e outros títulos, e vendas de fogões, geladeiras e lavadoras de roupas.

Ao apresentar as medidas ontem, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que elas serão suficientes para garantir uma taxa de crescimento de 5% para a economia brasileira no ano que vem.

Mas os economistas não acreditam que isso seja possível, num ano em que a atividade econômica deve desacelerar no mundo inteiro e a Europa se prepara para enfrentar uma nova recessão.

"Não é aquele presentão gordo de Natal", comparou o economista Wemerson França, da consultoria LCA. "É uma ajuda, um ajuste fino para estimular a economia".

Analistas que tentaram calcular o impacto das medidas concluíram que elas garantem um refresco para o comércio e a indústria por alguns meses, mas não têm força para sustentar a atividade econômica por muito tempo.

"A recuperação da economia no ano que vem será gradual, levando em consideração o ritmo moderado da atividade econômica", disse o economista-chefe do Bradesco, Octavio de Barros.

Projeções do governo e do mercado financeiro indicam que o país deve crescer algo ao redor de 3% neste e no próximo ano, uma freada brusca diante dos 7,5% de 2010.

Os economistas acreditam que a economia ficou estagnada ou pode até mesmo ter sofrido uma pequena contração no terceiro trimestre e o governo quer evitar que isso se repita nos últimos meses do ano.

Como os números do IBGE sobre o desempenho da economia no terceiro trimestre serão divulgados na semana que vem, o governo quis se antecipar com as medidas anunciadas ontem.

Mantega chamou empresários de vários setores a Brasília e fez um discurso recheado de frases de efeito, numa tentativa de encorajar investimentos e afastar o medo de que o Brasil seja contaminado pela crise mundial.

O custo do pacote foi estimado pelo governo em R$ 7,6 bilhões até o final do ano que vem, incluindo R$ 4,9 bilhões em impostos que poderão ser devolvidos num programa de estímulo às exportações de produtos industriais, anunciado em agosto e que só entrou em vigor ontem.

A redução do IPI dos eletrodomésticos da linha branca é válida até o fim de março. Uma medida que reduziu neste ano impostos para a farinha de trigo e o pãozinho foi prorrogada até o fim de 2012.

Redes de varejo e bancos aproveitaram para anunciar preços mais baratos e juros mais baixos. A Caixa Econômica Federal, controlada pelo governo, anunciou ter R$ 5 bilhões para novos empréstimos, reciclando um informe da semana passada em que oferecera R$ 10 bilhões.

"Mesmo que algumas medidas sejam temporárias, elas reativam a demanda num momento ruim, evitando demissões e gerando um ciclo virtuoso na economia", disse o economista Luis Otavio Leal, do Banco ABC Brasil.

(SHEILA D'AMORIM, LORENNA RODRIGUES, PRISCILLA OLIVEIRA, MARIANA CARNEIRO e MARIANA SCHREIBER)

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