Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Poder

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Desembargador rejeita imagem de censor

Presidente do TJ do Paraná afirma que impediu jornal de noticiar investigações sobre ele porque ação corre em segredo

Magistrado diz que 'Gazeta do Povo' quer atingi-lo porque teve seus interesses contrariados em ações

ESTELITA HASS CARAZZAI DE CURITIBA

Autor de uma ação que censurou o maior jornal do Paraná, o presidente do Tribunal de Justiça do Estado, Clayton Camargo, negou que tenha posição contrária à liberdade de imprensa, mas quer sigilo judicial em investigações sobre magistrados.

"Eu não me senti bem em ter entrado com a ação. Quis apenas o direito ao contraditório", disse Camargo, 67.

A "Gazeta do Povo" foi impedida em agosto de publicar textos que ofendessem "a honra, a boa fama e a respeitabilidade" de Camargo.

O desembargador, há dez no TJ-PR, é alvo de apurações sigilosas no Conselho Nacional de Justiça sobre suspeita de tráfico de influência e venda de sentenças, fatos noticiados pelo jornal local.

Camargo teve o pedido negado em primeira instância, mas recorreu ao TJ-PR, que preside desde fevereiro, e conseguiu reverter a decisão. Na quarta-feira, "em respeito à imprensa", ele desistiu do recurso. Com isso, ficou extinta a decisão de censura. Leia trechos da entrevista.

-

Folha - Por que o sr. resolveu processar a "Gazeta do Povo"?
Clayton Camargo - Em defesa da minha integridade, da minha honra. A "Gazeta do Povo" [age] por má vontade dos dirigentes da família Cunha Pereira. Julguei uma quantidade imensa de recursos que contrariaram interesses da família. Não posso comentar, mas é coisa grave.

Então, o sr. está dizendo que o noticiário foi motivado por interesses pessoais.
Por vingança, porque eu decidi de forma a contrariar os interesses deles.

Mas se existe investigação e seu nome é citado, não é natural que um jornal noticie isso?
Aquele processo que eles levaram para a imprensa corre em segredo de Justiça. Eles não poderiam ter feito aquilo. Se o principal veículo de comunicação do Paraná divulga que um juiz está sendo investigado por venda de sentença, isso inviabiliza que ele continue na função. Quanto mais se esse juiz é presidente do Tribunal de Justiça, quanto mais se esse feito corre em segredo de Justiça. Só existe sigilo para resguardar a honra do encarregado de julgar seus concidadãos. Não é privilégio do juiz. É institucional, é interesse da democracia.

A decisão judicial foi criticada por associações de imprensa, que a chamaram de censura.
Em momento algum tive a intenção de fazer censura prévia. Tenho o maior respeito pela imprensa. Esta ação inibitória, proposta com a maior boa fé, visava evitar que fossem divulgados fatos deformando a verdade. É aquela reação da pessoa que se sente covardemente atingida. Eu não me senti bem em ter feito isso. Eu quis apenas o direito ao contraditório.

O sr. não teme ficar tachado de censurador?
Temo. Muito. Normalmente não dou entrevista não porque não gosto de jornalista, mas porque não gosto de estrelismo. Tem gente que é fascinado por isso. Se fosse dar entrevista para algum daqueles soldadinhos obedientes, seriam perguntinhas capciosas, pegadinhas. Não tenho paciência.

Mas a "Gazeta do Povo" chegou a lhe procurar.
Pois é, mas o Ministério Público do Paraná emitiu parecer mandando arquivar um inquérito civil que tratava dos mesmíssimos casos dos quais tinham me acusado. Aí a "Gazeta do Povo" foi obrigada [a noticiar]. Mas poderia ter dado o mesmo realce que as denúncias. Não deram porque são parciais.

O fato de o próprio tribunal que o sr. preside ter concedido a censura não levanta suspeitas sobre sua isenção?
Absolutamente. Um juiz não depende de mim para evoluir na carreira. Ele é independente, inamovível. Eu não dei uma palavra com esse rapaz [o juiz substituto que acatou o pedido de Camargo].

O que tem a dizer sobre as suspeitas investigadas no CNJ?
Sabe como funciona o CNJ? Qualquer matéria veiculada na imprensa eles têm obrigação de instaurar procedimento investigativo. Todo dia estou prestando informação ao CNJ. As pessoas prestam declaração mesmo que seja totalmente falsa. Digo a você: não houve venda de sentença. Não houve tráfico de influência. Vou ser absolvido.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página