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Análise - Pronunciamento
Discurso expõe confiança no refluxo das manifestações
Fala de Dilma mostra crença de que ruas não formaram agenda coerente
O discurso do Sete de Setembro de Dilma Rousseff indica que o governo confia no refluxo das manifestações de rua que agitaram junho.
Dilma falou um pouco de tudo, utilizando as ferramentas convencionais da política: exagerar os pontos positivos, admitir levemente os problemas para sugerir humildade e enrolar no resto.
Na economia, ignorar as previsões de desaceleração daqui a para a frente é do jogo político. Dar a impressão que o surpreendente bom resultado do segundo trimestre implica sermos mais pujantes que a Alemanha, contudo, parece um pouco demais.
Os próprios manifestantes são uma citação breve, quando Dilma diz fazer autocrítica e reconhece que serviços públicos são deficientes. Só para, em seguida, enumerar supostas realizações.
Essa deferência lateral aos protestos demonstra que o Planalto acredita que a difusão das demandas das ruas de junho não formou uma agenda coerente a ser respondida de forma objetiva.
Em troca, fala-se genericamente nos tais "pactos", que abordam de tudo um pouco. A ideia de um plebiscito sobre reforma política, vendida pelo marqueteiro João Santana como a "porta de saída" da crise, sublimou-se e tornou-se piada em Brasília.
As outras agendas seguem como cartas genéricas de intenção. A única coisa que realmente saiu do papel, o programa Mais Médicos, ainda está para ser provado como política pública.
Como peça de campanha, a ênfase de Dilma nele mostra que suas pesquisas internas sugerem aceitação da população.
Tal abordagem conservadora pode se mostrar correta, mas o fato de o Planalto trabalhar com um dia mais explosivo de manifestações hoje demonstra que ela é, no fundo, uma grande aposta.