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A sombra de um nome

O tucano Bruno Covas tenta vencer os rivais no PSDB usando o prestígio do avô e a simpatia de Geraldo Alckmin

Joel Silva/Folhapress
Bruno Covas em sua sala na Secretaria do Meio Ambiente, que assumiu com a posse do governador Geraldo Alckmin
Bruno Covas em sua sala na Secretaria do Meio Ambiente, que assumiu com a posse do governador Geraldo Alckmin

DANIELA LIMA
DE SÃO PAULO

Há pouco mais de um mês, Bruno Covas subiu pela primeira vez num palanque como pré-candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo, num seminário organizado pelo partido. Estava nervoso.

Secretário estadual de Meio Ambiente, ele começou dissertando sobre emissões de gases poluentes e daí saltou para temas como mobilidade urbana, acesso à informação e a vida na periferia.

O discurso soou vazio e sem foco, mas deu munição para os críticos de Covas no partido. Eles o consideram inexperiente demais para uma disputa eleitoral tão difícil como a do ano que vem.

Covas entrou em campo com dois trunfos sobre os outros pretendentes tucanos: o prestígio evocado pelo sobrenome que herdou do avô, o governador Mario Covas (1930-2001), e a predileção do governador Geraldo Alckmin.

Mas ele ainda não foi capaz de transformar esses dois ativos no capital necessário para viabilizar suas pretensões. "Por enquanto, a candidatura dele é uma foto com sobrenome", afirmou um operador político tucano na época da estreia de Covas.

Na última segunda-feira, o secretário voltou ao palanque, para um debate na zona norte de São Paulo com os outros três pré-candidatos tucanos -os secretários Andrea Matarazzo (Cultura), José Aníbal (Energia) e o deputado federal Ricardo Trípoli.

Quando chegou sua vez de discursar, Covas fez uma defesa enfática das prévias convocadas pelo PSDB para escolher seu candidato à Prefeitura, atacando a ala do partido liderada pelo ex-governador José Serra, para quem os tucanos deveriam abrir mão da candidatura própria para apoiar um nome do PSD do prefeito Gilberto Kassab.

"Quem está perto das ruas sabe o recado da militância, sabe que queremos prévias", discursou Covas no início do debate, em que se apresentou como um "político do século 21", listou propostas e criticou a administração atual, sem mencionar Kassab.

As prévias tucanas estão marcadas para março, mas ninguém sabe ao certo se ela será realizada. Muitos acham que na última hora Serra lançará seu nome como candidato, embora hoje ele negue a intenção de fazer isso.

A pré-candidatura de Bruno Covas foi concebida com base na teoria de que na corrida à prefeitura os eleitores estarão em busca de nomes novos, a mesma ideia que levou o PT a escolher o ministro da Educação, Fernando Haddad, como candidato.

Covas tem 31 anos, foi eleito deputado estadual em 2006 e reelegeu-se em 2010 como o mais votado do Estado. Seu livro preferido é o romance infanto-juvenil "O Homem que Calculava", de Malba Tahan. Ele deixou a Assembleia neste ano para assumir a pasta de Meio Ambiente a convite de Alckmin.

Tropeçou um mês depois de anunciar que disputaria as prévias do partido, em setembro. Envolveu o próprio nome no escândalo da venda de emendas na Assembleia, ao dizer numa entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo" que rejeitara uma oferta de propina quando deputado.

Suas tentativas de consertar o estrago recuando da declaração original foram apontadas como prova de ingenuidade por seus críticos no partido. Alckmin o defendeu publicamente no episódio.

Covas nasceu em Santos, mas mudou-se para São Paulo aos 14 anos, quando foi morar com o avô no Palácio dos Bandeirantes. "Todo mundo queria fazer trabalho de colégio na minha casa", brinca o secretário. Ele só saiu de lá em 2001, quando um câncer matou seu avô, de quem Alckmin era o vice.

Há quase dois meses, Covas passou a ser acompanhado por um grupo de conselheiros que inclui um ex-assessor das campanhas de Alckmin e Serra, Felipe Soutello, e o jornalista Osvaldo Martins, que foi secretário de comunicação de seu avô.

A atuação do grupo explica, em parte, a evolução de seu discurso de estreia para o da última segunda-feira.

Na última quinta-feira, Covas foi a uma reunião da pré-campanha na zona leste da capital. Havia mais de 60 pessoas, entre elas os presidentes de 11 dos 21 diretórios zonais do PSDB na região. Todos fizeram discursos de apoio e citaram seu avô.

"Podem falar que sou jovem, inexperiente, não importa", disse. "O partido tem que estar mobilizado." Quando terminou, seus apoiadores aplaudiram o discurso ensaiando um grito de guerra: "Um, dois, três! Covas outra vez".

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