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Janio de Freitas

A palavra mágica

Até duas palavrinhas simples em um telefonema podem ser batizadas de prestação de consultoria

Já entrado no estágio de também dar explicações, o ministro Fernando Pimentel, do Desenvolvimento, traz de volta as interrogações sobre os "serviços de consultoria", como fonte dos ganhos questionados.

A recomendação de Dilma Rousseff ao seu amigo pessoal e ministro foi a esperável: "seja transparente e comprove tudo para dirimir qualquer dúvida". Ao que, por dever de ofício e inspiração da atualidade, deve-se acrescentar: se puder.

Até a redação desta linha, Pimentel apresentara cópias dos seus contratos de consultoria com a Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) e com a empresa QA Consulting, fontes dos R$ 2 milhões brutos de sua receita antes de assumir o ministério. Foram-lhe atribuídas, ainda, alegada consultoria ao grupo Convap e ao Centro de Indústrias de MG, este último abrigado pelo contrato com a Fiemg.

À parte o que fique demonstrado de correto ou errado no questionamento a Fernando Pimentel, contratos não respondem sobre a natureza dos recebimentos. Embora exibi-los seja um passo muito além de Antonio Palocci, que nem isso pôde fazer em favor de sua ligeira fortuna, como é próprio das justificativas com a simples menção da palavra mágica "consultoria". Esta, um presente, aos costumes brasileiros, feito há tempos por economistas que passaram pela direção do Banco Central e outros gabinetes da área financeira do governo.

Capaz de eliminar questionamentos, de fato, é a demonstração do serviço prestado. Seja por que meio for. Do contrário, até mesmo duas palavrinhas simplórias em um telefonema podem ser batizadas de prestação de consultoria. E até serem mesmo, mas não como ganho dos que estão sujeitos, por força das exigências da vida pública, a dispor de elementos convincentes para responder aos questionamentos éticos e morais.

Está tudo na escala zero -salvo os cifrões- quando se trata da relação entre essa história de consultoria e os poderes públicos. A palavra mágica funciona como um habeas-corpus. Com efeito sobre passado, presente e futuro, sobre quem passou por altos postos públicos, ou está em tais altitudes, ou para lá vai. O problema é primordialmente ético, mas não se vá, por isso, querer que a Comissão de Ética Pública se ocupe em pensá-lo. A comissão tem mais o que não fazer.

Mas se Dilma Rousseff se propõe a impor um saldo moralizante na máquina de governo, importante para isso é provocar a criação de ideias e medidas que fechem essa porta de acesso à palavra mágica da impunidade.

O POPULAR

O PSDB quer popularizar-se e, para isso, criar uma central sindical própria. Bom projeto. Não faltam sindicatos para a sua central: Sindicato Nacional dos Bancos, Sindicato das Empresas de Crédito, Sindicato dos Ruralistas, Sindicato dos Desmatadores, Sindicato das Empreiteiras, há muitos mesmo.

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