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Análise

Morte violenta ajudou a forjar o mito do guerrilheiro heroico

MARCELO RIDENTI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Carlos Marighella talvez tenha sido o líder comunista brasileiro mais destacado, depois de Luiz Carlos Prestes.

Militante do Partido Comunista desde os anos 30, teve longa trajetória até fundar a ALN (Ação Libertadora Nacional) e ser morto numa emboscada em São Paulo, em 1969, como resultado da escalada repressiva após o sequestro do embaixador americano Charles Elbrick.

A morte violenta ajudou a forjar o mito do guerrilheiro heróico. Contudo, não se deve esquecer que Marighella defendeu posições diferentes, conforme a conjuntura.

Foi paladino da opção democrática no pós-guerra e do esquerdismo do Manifesto de Agosto de 1950. Criticou o segundo governo Vargas e aproximou-se dos trabalhistas depois de seu suicídio.

Conhecido pela firmeza e pela emotividade, conta-se que teria chorado com a revelação oficial dos crimes de Stálin em 1956. Foi figura proeminente no florescimento democrático do PCB nos governos de Juscelino Kubitschek e João Goulart, apesar de o partido seguir ilegal.

O golpe e a ditadura pareceram-lhe o esfacelamento da possibilidade de realizar a revolução nacional e democrática pela via pacífica. Influenciado pelos cubanos, optou pela guerrilha, criando a ALN, no contexto de ascensão de movimentos de libertação nacional.

Pretendia iniciar a revolução brasileira recorrendo a ações armadas independentes de qualquer estrutura burocrática partidária, no campo e na cidade, criando uma rede política que terminaria por derrubar a ditadura e instaurar um governo popular.

Hoje, antigos companheiros de Marighella -do senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB) ao ex-ministro José Dirceu (PT) - integram diferentes partidos.

Isso ajuda a entender as homenagens oficiais que vem recebendo. É chamado de "terrorista" por setores militares e de direita que não admitem que o Estado peça desculpas pela sua morte. Antigos dirigentes do PCB já o consideraram um "patriota equivocado". Diferenças à parte, Marighella foi um do principais protagonistas da história brasileira no século XX.

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