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Procurador manda apurar demora para investigar Alstom
Janot quer esclarecimentos sobre falta de atendimento a pedido de cooperação feito por autoridades da Suíça
Procurador responsável pelo caso diz que pedido ficou parado porque foi arquivado na pasta errada em seu gabinete
O procurador-geral da República Rodrigo Janot pediu uma apuração interna sobre o fato de o procurador Rodrigo de Grandis não ter cooperado com autoridades suíças que em 2011 pediram investigações sobre suspeitos de intermediar propinas pagas pela empresa Alstom a políticos e servidores de São Paulo.
Como a Folha revelou sábado, o Ministério Público da Suíça cansou de esperar pela ajuda da procuradoria brasileira e arquivou as investigações sobre três suspeitos.
A Procuradoria da República em São Paulo afirmou que as providências não foram adotadas porque o pedido suíço foi arquivado por engano numa pasta do gabinete de Grandis e ficou esquecido sem qualquer andamento desde fevereiro de 2011.
Segundo a Procuradoria-Geral da República, Janot enviou ontem ofício à Secretaria de Cooperação Jurídica Internacional do Ministério Público Federal, órgão sediado em Brasília, "para determinar o esclarecimento sobre a suposta demora no cumprimento de pedido de cooperação jurídica passiva em matéria penal no caso Alstom".
O principal requerimento da Suíça foi o de realização de buscas na casa de João Roberto Zaniboni, que ocupou o cargo de diretor de Operações e Manutenção da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) no período de 1999 a 2003, nas administrações dos tucanos Mário Covas e Geraldo Alckmin.
Segundo rastreamento financeiro feito pelas autoridades suíças, Zaniboni recebeu US$ 836 mil (o equivalente a R$ 1,82 milhão) da Alstom por intermédio dos consultores Arthur Teixeira e Sérgio Teixeira, que depositaram o valor em um conta do ex-diretor da CPTM na Suíça.
PROPINA
Para os procuradores da Suíça, Zaniboni recebeu propina para favorecer a Alstom em contratos da CPTM. Ele diz que o dinheiro era o pagamento por serviços de consultoria prestados antes de sua chegada à estatal.
Além dos três envolvidos no repasse de US$ 836 mil, a procuradoria suíça apontou que o consultor José Amaro Pinto Ramos também era suspeito de intermediar propinas pagas pela Alstom e pediu que todos fossem interrogados no Brasil. Na Suíça, eles foram indiciados sob suspeita de corrupção e lavagem de dinheiro.
Como nenhum dos pedidos da Suíça foi atendido, na semana passada as autoridades brasileiras receberam a informação de que as investigações em relação a Zaniboni, Ramos e Sérgio Teixeira, morto em 2011, foram arquivadas.
Ramos afirma que recebeu da Alstom por serviços de assessoria financeira e que prestou esclarecimentos às autoridades suíças antes do arquivamento das investigações sobre ele.
Somente as apurações sobre o consultor Arthur Teixeira continuam na Suíça.
Após tomar conhecimento sobre o pedido suíço, o Ministério Público estadual de São Paulo, que também investiga a Alstom, pediu cópias da documentação ao DRCI (Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional), órgão do governo federal.
Ao ser questionado sobre a situação, o gabinete de Grandis afirmou que ocorreu uma "falha administrativa" e o pedido suíço só foi encontrado na última quinta-feira. A explicação do gabinete foi a de que a solicitação deveria ser anexada a outro pedido de cooperação da Suíça mas acabou indo para uma pasta de arquivo.
A Procuradoria disse que já avisou o DRCI sobre o problema.