Helicóptero que levou droga já foi abastecido com verba de gabinete
Ao menos R$ 11,2 mil em recursos públicos foram gastos por Gustavo Perrella (SDD-MG) com combustível para aeronaves
Durante protesto ontem em Belo Horizonte, manifestantes jogaram farinha em frente à Assembleia Legislativa
Após a revelação de que um deputado estadual usou verba indenizatória a que tem direito na Assembleia de Minas Gerais para abastecer um helicóptero apreendido com quase meia tonelada de cocaína, o Legislativo mineiro proibiu ontem o uso desses recursos com aeronaves.
O deputado estadual Gustavo Perrella (SDD-MG) gastou ao menos R$ 11,2 mil neste ano com combustível para aeronaves. O registro mais recente é de 1º de outubro.
O senador Zezé Perrella (PDT-MG), pai do deputado e ex-presidente do Cruzeiro, também usou R$ 11,1 mil neste ano para abastecer a aeronave da empresa da família, conforme prestação de contas publicada pelo Senado.
A proibição do uso da verba pública para abastecer aeronaves veio após manifestantes protestarem ontem em frente à Assembleia mineira com um "farinhaço". Até ontem, esse uso era permitido.
O presidente da Casa, Dinis Pinheiro (PP), também determinou que a Comissão de Ética apure o uso dos recursos pelo deputado.
O helicóptero da Limeira Agropecuária, empresa registrada em nome de Gustavo Perrella e de parentes, foi apreendido pela Polícia Federal no Espírito Santo no último domingo após transportar 445 kg da droga.
O piloto da aeronave e da família Perrella, Rogério Antunes, foi preso em flagrante, mas disse que não sabia que a carga era composta por cocaína. Segundo a Polícia Federal, até agora não há prova de envolvimento da família Perrella ou de sua empresa com o tráfico.
O piloto também tinha cargo na Assembleia, por indicação do deputado Gustavo, e recebia R$ 1.700 mensais. Foi exonerado após o episódio, e a Casa vai apurar se ele era um servidor fantasma.
O deputado prestou depoimento ontem à PF, em Belo Horizonte. Segundo seu advogado, Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, ele reafirmou que desconhecia que a aeronave era usada no transporte de drogas.
Pela cotação média do varejo nos grandes centros brasileiros, a carga de cocaína apreendida no helicóptero dos Perrella renderia cerca de R$ 22 milhões no mercado de entorpecentes, segundo especialistas e policiais consultados pela Folha.
OUTRO LADO
O advogado que representa a família Perrella disse que não havia irregularidade no uso da verba indenizatória para a compra de combustível para a aeronave.
Ele afirmou também que "em 90% das vezes o helicóptero era usado para atividade profissional".
A família Perrella nega envolvimento com o tráfico.
O piloto, o copiloto e dois homens que descarregavam a droga estão presos. Piloto e copiloto negaram envolvimento da família Perrella nos primeiros depoimentos à Polícia Federal. Também disseram que desconheciam que a carga fosse de cocaína.