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Ricardo Melo

Fatos e versões

Mesmo com o suposto ambiente de véspera do apocalipse, a popularidade do governo petista cresceu

O período que vai de 11 de outubro a 28/29 de novembro, intervalo que separa as mais recentes pesquisas do Datafolha, não foi propriamente favorável, em termos midiáticos, ao governo federal e seus aliados. Para citar poucos episódios, as prisões do mensalão, o aumento astronômico do IPTU em São Paulo e a queda do homem forte do prefeito Haddad pareciam ter lançado o PT e sua turma num verdadeiro inferno astral.

Não bastassem as agruras da política, a metralhadora giratória dos "analistas econômicos" trabalhou a todo vapor. Um desavisado que desembarcasse no Brasil nesta época imaginaria um país à beira da catástrofe. O governo está falido, metas fiscais não são cumpridas, a inflação foge ao controle. A Petrobras, então, ocupa manchetes como empresa a um passo da insolvência. Nem os índices invejáveis de baixo desemprego escapam do mau humor dos distintos especialistas. Que ninguém se iluda, adverte esse pessoal. Logo, logo haverá uma enxurrada de demissões e o desemprego vai disparar.

Claro, não cabe à imprensa livre dizer amém a governos, qualquer governo. Deve investigar tanto falcatruas da situação quanto roubalheiras da oposição. Mas o espantoso de tudo isso é que, mesmo com o suposto ambiente de véspera do apocalipse, os números informam que, veja só, a popularidade do governo petista cresceu. Mais. Em qualquer dos cenários eleitorais, a presidente Dilma Rousseff surge à frente dos seus prováveis rivais nas urnas. Num hipotético cenário em que Lula fosse o candidato, os prognósticos são ainda mais acachapantes. Como até onde se sabe os brasileiros não professam o masoquismo social, os dígitos indicam, no mínimo, uma distância notável entre fatos e versões.

Na minha opinião, o governo Dilma não é nenhuma Brastemp --longe disso. É tímido diante dos banqueiros, amplo demais nas alianças, limitado na política social e timorato em questões como a apuração dos crimes da ditadura militar. Mesmo com seus tropeços, no entanto, aos olhos (e no bolso) do povo a administração petista é superior às alternativas disponíveis no mercado. A própria oposição assina embaixo. Alguns exemplos: Aécio Neves, do PSDB, quer tirar uma casquinha do sucesso do programa Bolsa Família e incorporá-lo à Constituição. Em São Paulo, o governo Alckmin se rendeu às vantagens da proposta do Bilhete Único Mensal.

No plano nacional, o quadro é ainda mais revelador. O recém-criado partido Solidariedade, o SDD, só abandonou o anonimato quando o helicóptero de um de seus deputados foi pilhado traficando meia tonelada de cocaína. Vendida como renovação e novidade, a aliança pragmática, desculpe, programática entre Eduardo Campos e Marina Silva no PSB não sai do lugar. Sua plataforma por enquanto se resume a platitudes como "está bom, mas vamos fazer melhor", ou então "colocaremos o programa acima dos interesses puramente eleitorais". Resumindo: me engana que eu gosto.

A continuar nessa toada, a eleição que muitos esperavam disputada corre o risco de cair na monotonia. Não que o povo rejeite mudanças. Como mostra a mesma pesquisa, 66% dos entrevistados querem ações inovadoras dos próximos governos. Mas considerando o quadro político brasileiro atual, as chances de isso acontecer vão depender sobretudo da volta à cena dos atores que protagonizaram as Jornadas de Junho.


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