Índice geral Poder
Poder
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Janio de Freitas

Proteção às avessas

Se Pimentel não pode ir ao Senado, força-nos à conclusão de que não tem como defender correção ética

A PROTEÇÃO que o governo e o PT dão ao ministro Fernando Pimentel contra sua possível convocação, logo mais, para depor no Senado, contém um significado mais forte que o da pretendida proteção.

Em condições normais, a convocação oposicionista oferece a oportunidade, para um depoente hábil, de levar os seus esclarecimentos à altura de espetáculo demolidor da oposição.

Ganhos, muitos ganhos, para o governo e para o ministro.

Vá lá que a Fernando Pimentel faltem as qualidades da artilharia eloquente e incisiva.

A carência, em todo caso, lhe deixaria a primeira parte da oportunidade existente na convocação: o esclarecimento que, invertendo a atual situação, protegesse o governo de desgastes e ao próprio ministro de enfraquecimento político.

Se Fernando Pimentel não pode se submeter nem a essa possibilidade oferecida pela convocação, força-nos à conclusão de que não tem como defender a correção ética ou a legalidade das condutas que lhe são criticadas.

Proteção de quê, portanto, lhe dão o governo e o PT? Só pode ser contra a certeza do insucesso, oprimido por perguntas a que não pode liquidar e comprovações que não conseguiria fazer.

Caso não seja assim, suspende-se a proteção-acusação e Fernando Pimentel dá à opinião pública, por intermédio do Senado, os esclarecimentos devidos de um lado e desejados de outro.

Mas não sei quem, à volta de Pimentel ou no governo, fosse capaz de aconselhá-lo a aceitar o depoimento. O apontado pagamento de empresa que o negou ("nem teria faturamento para isso") e a contratação discutível, pela atual Prefeitura de Belo Horizonte, de empreiteira a que o ex-prefeito Fernando Pimentel deu consultoria, ficam a cada dia engrossados com mais um pormenor.

Quem sugere, quem pratica e quem aceita a tal proteção sabe as razões que tem para isso.

NADA

A conferência da ONU para o clima, em Durban, África do Sul, precisou ser prorrogada para chegar a coisa nenhuma.

Os representantes dos quase 200 países concordaram todos no agravamento dos problemas climáticos, por decorrência de ações humanas. O que, a rigor, quer dizer falta de providências dos países para reduzir sua ação deletéria contra a humanidade.

Mas este é o resultado da conferência, sem blá-blá-blás: prorrogação até 2017 do Protocolo de Kyoto, cuja necessidade de superação tem justificado as várias conferências posteriores; nenhuma norma nova e com força de norma internacional; e futuras negociações (assim vagas, sem programa, sem agenda, sem mais nada) para um novo tratado com vigências inicial a partir de 2020. Se as tais negociações derem em alguma coisa.

EM TEMPO

Fernando Henrique Cardoso sobre si mesmo, na sabatina Folha/UOL: "Aos 8O anos, você tem de dizer o que pensa".

Foi preciso esse tempo todo? Mas está provado: sempre há tempo.

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.