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Entrevista da 2ª Randolfe Rodrigues

Ofereço ao país a chance de ter o PMDB como oposição

Pré-candidato do Psol diz ver Dilma, Aécio e Campos reféns de aliança e nega vínculos entre seu partido e 'black blocs'

VERA MAGALHÃES EDITORA DO PAINEL

Depois de participar das eleições presidenciais de 2006 e 2010 com candidatos donos de retóricas incendiárias, a ex-senadora Heloisa Helena e o veterano Plínio de Arruda Sampaio, o PSOL lança hoje o nome do moderado senador Randolfe Rodrigues (AP), 41 anos, para representá-lo no pleito de outubro.

Rodrigues venceu a disputa interna contra Luciana Genro (RS), mas conseguiu costurar um acordo para que a ex-deputada seja vice em sua chapa. Também articula alianças com PSTU e PCB.

Alçado ao Senado como azarão após enfrentar o grupo de José Sarney no Amapá, ele usa o antípoda político para lançar seu primeiro slogan: "Quero oferecer ao povo brasileiro a chance inédita de ver José Sarney e Paulo Maluf na oposição", diz, se esquecendo que o PMDB fez oposição ao governo Fernando Collor.

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Folha - O sr. lança sua candidatura depois de um debate interno não muito pacífico. Por que a escolha recaiu sobre o sr., figura mais moderada?

Randolfe Rodrigues - Acho que o debate foi muito bom para o PSOL, que sai mais unido e amadurecido. Obtivemos 54% no congresso, um reconhecimento de que meu nome sintetiza essa maioria. Um sozinho não representa nada. O que vai ser apresentado é uma chapa, comigo e a Luciana [Genro, ex-deputada]. Pretendemos ser a síntese não só do PSOL, mas de uma aliança de esquerda, com PSOL, PCB e PSTU.

Partidos de esquerda têm dificuldade de sair juntos. O que seria diferente desta vez?

O momento do Brasil. Vivemos um momento de cerco e ofensiva conservadoras sobre as ideias de esquerda, aos partidos de esquerda. E, ao mesmo tempo, um momento de oportunidade para nós, de ter acúmulo institucional nesta eleição, de o PSOL dobrar, talvez até triplicar, sua bancada. De o PSTU pela primeira vez eleger um representante para o Congresso. De o PCB fazer representantes nas Assembleias Legislativas.

Isso não é mais sonho, é possibilidade. De um lado, uma ofensiva conservadora como nunca se viu desde a ditadura, e um governo de centro que cada vez mais cede a essa ofensiva. E de outro, um horizonte de oportunidades.

A quais partidos e segmentos da sociedade o sr. atribui essa ofensiva conservadora?

Há um movimento de criminalização da pobreza, um espaço que tenta justificar e legitimar ideias contra negros, homossexuais. Temos uma política econômica conservadora, e as três candidaturas já colocadas estão fidelizadas à mesma lógica do mercado. Para completar, essas três candidaturas são reféns de uma governabilidade atrelada ao PMDB.

Quero oferecer ao povo pela primeira vez na história do país a chance de ter o PMDB na oposição, de ter pela primeira vez José Sarney e Paulo Maluf na oposição. E você pode me perguntar: é possível governar sem o PMDB?

É possível?

Eu refaço a pergunta: o que acontece com o PMDB é governo? Isso não é governo. É distribuição de cargos, loteamento de funções públicas, repartimento da coisa pública. Ter o maior ministério de cargos públicos das democracias ocidentais só para abrigar aliados não é governo.

Vamos supor que o sr. ganhe. Provavelmente a correlação de forças no Congresso seria similar à de hoje. Como iria fazer para o Congresso apoiar um programa de esquerda?

Quero fundar uma nova governabilidade, negociando diretamente com o povo brasileiro. Para isso é que estamos num regime presidencialista. Essa história de presidencialismo de coalizão é eufemismo para justificar o clientelismo e o fisiologismo.

Democracia direta?

Proponho mecanismos de participação popular no governo. Já existe na Constituição. Não quero fazer nada mais do que a cumprir.

Pretende governar à revelia do Congresso?

De maneira nenhuma. Eu sou de lá, sou do Parlamento. Quero representar o fundamento que é a alma da nossa Constituição: o poder emana do povo e por ele será exercido diretamente ou por meio de seus representantes. Vou dialogar com o Congresso, mas não me submetendo ao troca-troca. A primeira medida é acabar com esse monte de ministério.

Que número seria o razoável?

O que existe nas demais democracias ocidentais. Na França, não há mais de 15, nos EUA, as secretarias de Estado não são mais de 20. Não é razoável ter 25 mil cargos públicos, tem de haver uma racionalização do espaço público.

O sr. disse que os demais candidatos são atrelados ao mercado. Sua candidatura será antimercado?

Não. O mercado tem de estar a serviço da sociedade, e não ter a sociedade refém. Eduardo Campos disse que dará mandato ao presidente do Banco Central. Isso significa que ele renuncia ao governo antes mesmo de ser eleito.

O sr. é contra autonomia maior ao Banco Central?

Totalmente. Quem nomeia presidente do Banco Central é o presidente da República. Política monetária é instrumento de soberania. É o povo que detém a autonomia do BC. No meu governo, não haverá nem essa autonomia defendida pelos candidatos do PSDB e do PSB, nem a autonomia de hoje, informal.

Recentemente o PSOL foi relacionado ao financiamento e ao apoio logístico a grupos violentos, como os "black blocs". Qual é essa relação? E como o sr. vê quem defende a violência como instrumento legítimo de reivindicação?

O vínculo é nenhum. E qualquer tipo de violência em manifestação é condenável, venha de onde vier. Mas é importante que se diga que antes desse episódio da morte do [cinegrafista] Santiago, totalmente condenável e lamentável, teve muitas outras violências desde os protestos de junho, e sempre vindas da polícia. Várias em São Paulo.

O que é lamentável é que, de todos esses casos, inclusive de violência contra jornalistas, a Corregedoria da PM de São Paulo não apurou a fundo nenhum.

O sr. nega que parlamentares do PSOL ajudem esses grupos, ainda que isoladamente?

Não só descarto, asseguro que não há apoio. Financiamento, então, nem pensar. Sempre apoiamos manifestações. Está no genótipo do PSOL. Nós surgimos das manifestações sociais, temos relação direta com elas. Temos muito orgulho disso. Mas identidade com esses grupos não temos nenhuma, porque são anárquicos, contra partidos. Nós somos um partido e pregamos a organização política, de mudar o poder político, de disputar as regras do Estado democrático de direito. Eles têm aversão a essa disputa.

Mas um assessor do deputado Marcelo Freixo ajudou "black blocs" quando foram presos no Rio.

Um dos assessores de Marcelo é advogado e integra uma ONG de direitos humanos. É natural que nós, que temos atuação nessa área, tenhamos militantes dos direitos humanos e dos movimentos sociais atuando conosco. Isso é da identidade do campo ideológico do parlamentar, e não é isso que vai dizer que há ligação do parlamentar com violência em manifestações.

Houve por parte de simpatizantes do PSOL uma reação um tanto exacerbada quando se apontou essa suposta ligação. Existe um culto a Freixo?

Eu condeno qualquer culto à personalidade, em qualquer lugar e seja a quem for. Mas aqui não houve culto à personalidade. Houve uma reação de defesa a uma ligação que não existia, que era fruto de uma forçação de barra. A reação de solidariedade foi diretamente proporcional à forçação de barra.

Outra polêmica recente envolvendo o PSOL foi a acusação de que a deputada estadual Janira Rocha (RJ) recolhia parte dos salários dos assessores.

Acreditamos na inocência da Janira. O partido vai tirar as conclusões em sua comissão de ética. O que ela nos fala é que o que ocorreu não foi caixa dois, provou que não houve captação ilícita, mas contribuição voluntária de assessores para o mandato.


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