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Eleição no Ministério Público paulista opõe alas ligadas ao PSDB
Candidatos alinhados ao governador Geraldo Alckmin e ao antecessor José Serra disputarão comando do órgão
Rosa afirma que não se combate violência com discurso de procurador; Marrey diz que gestão atual é 'sem liderança'
A eleição para o cargo de procurador-geral de Justiça, o chefe do Ministério Público de São Paulo, marcada para o dia 5 de abril, virou uma disputa entre dois grupos ligados ao PSDB.
Uma das alas é alinhada com o governador Geraldo Alckmin e tem como candidato o procurador-geral licenciado Márcio Elias Rosa.
A outra tem laços com o ex-governador José Serra e é galvanizada pela candidatura do ex-procurador-geral Luiz Antonio Guimarães Marrey.
Apesar das ligações com o mesmo partido, o clima entre os candidatos é de confronto. Marrey, que foi procurador-geral por três vezes, diz que a Procuradoria foi omissa no mandato de Rosa.
"É uma gestão sem liderança, politicamente tímida e muda. Não se sabe qual é a posição do Ministério Público sobre quase nenhum tema importante", afirma.
Já Elias Rosa defende que durante a sua administração "implantou um modelo de trabalho em que há menos discurso e mais resultados efetivos na atuação de promotores e procuradores".
Para Marrey, o silêncio do adversário faz parte de uma estratégia: "Ele não quer incomodar. Alguém que cobre soluções em segurança pública pode desagradar quem está na chefia da [secretaria de] Segurança Pública".
O ataque cifrado de Marrey tem dois alvos: 1) a segurança é o ponto mais criticado do governo Alckmin; 2) o secretário de Segurança, Fernando Grella, antecedeu Rosa no cargo de procurador-geral e foi o padrinho político do atual candidato da situação.
Rosa afirma que a crítica de Marrey é "injusta e improcedente". Segundo ele, "não se combate a violência com discurso do procurador-geral. O protagonismo é do promotor de Justiça".
E ataca Marrey: "Talvez ele sinta falta do culto ao personalismo, que de fato não existe hoje na instituição".
AÇÃO DE PROMOTORES
Segundo Rosa, sua gestão apoiou ações de promotores e grupos especiais de investigação e tomou iniciativas como a criação de uma agência de atuação integrada com o Executivo e as polícias.
Há algo mais em comum entre Rosa e Marrey além das ligações com os tucanos. Ambos já foram conduzidos à chefia do Ministério Público apesar de não terem vencido a eleição.
Marrey não ganhou em 1996, mas foi o escolhido do então governador Mário Covas (PSDB). Em 2012, o procurador Felipe Locke obteve o primeiro lugar na votação, porém Alckmin indicou Rosa, o segundo colocado, para o cargo. Segundo a lei, o governador pode escolher qualquer um dos três primeiros colocados.
Uma das principais investigações em curso no Ministério Público é sobre a ação de um cartel em licitações do Metrô e da CPTM entre 1998 e 2008, nas gestões tucanas de Covas, Serra e Alckmin.
Marrey diz que sua ligação com Serra, de quem foi secretário de Justiça, não o silenciaria numa eventual apuração sobre o ex-governador.
Dois dos contratos citados pela Siemens como alvos de ação do cartel foram assinados durante o governo Serra.
"Todo mundo sabe que a minha atuação [como procurador] é de não poupar ninguém", afirma Marrey. No período que ele foi procurador-geral, o Ministério Público moveu ações contra duas secretárias de Covas, Rose Neubauer e Marta Godinho.
Rosa também diz que terá atuação independente em relação ao governo, inclusive nas apurações sobre o cartel.
"Se as investigações vierem para o meu gabinete, o meu dever é de levar a cabo e de responsabilizar quem quer que seja", diz.
O procurador-geral licenciado diz que mostrou isenção ao pedir à Assembleia a cassação do vice-governador paulista Guilherme Afif Domingos (PSD), por acúmulo de função. Afif passou a integrar o quadro de ministros da presidente Dilma Rousseff (PT).