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Janio de Freitas

Desmemórias

Os 50 anos do golpe de 64 solicitam de suas restantes testemunhas o que, pelo já visto, parecem não dispor

Minha geração e suas vizinhas, de baixo e de cima, têm dado provas agudas de falta de memória histórica. Os 50 anos do golpe de 64 solicitam de suas restantes testemunhas o que, pelo já visto a outros propósitos, tais gerações parecem não dispor no volume e na qualidade devidos, senão obrigatórios.

Mas, com pesar pela má palavra, a efeméride provoca um agravamento que assombra: às torções de memória, em uns, junta-se o não sei o quê de inúmeros historiadores, cientistas políticos, antropólogos e outros. O resultado, pelo que li e ouvi em parte de mesas redondas, é uma ininteligível balbúrdia de ficção, imprecisões e, se há acadêmicos, presunção.

Vivi e convivi intensamente aqueles anos, talvez moço demais para viver por dentro muitas das situações extraordinárias, até por dirigir um jornal da importância incomparável do "Correio da Manhã" então. Quando do golpe, estava montando, já bem adiantado, um novo e inovador jornal, cujo acionista majoritário era Mario Wallace Simonsen, dono da TV Excelsior que revirou a TV no Brasil e coproprietário da grande Panair, usurpada por uma transa de militares e golpistas civis, e dividida entre a Varig e a própria FAB. Contra muitas opiniões, inclusive a de Simonsen, sustei de imediato a montagem do jornal, convencido de que os militares, daquela vez, vinham para dominar por bastante tempo e a qualquer custo. Muitas de nossas vidas se puseram de cabeça para baixo.

Agora, nos 50 anos, preferi a posição de leitor/ouvinte. As montagens picotadas do que se diz, entremeadas das falas de outros, predominam aqui com uma ligeireza que embaralha o relato factual ou impede a exposição de uma linha de pensamento. Escrever neste espaço (há também um livrinho em estado fetal) seria lógico, não fora o fato de que a ocasião estimula uma profusão de articulistas e a discussão agressiva, em vez do debate, vem a ser inevitável. Estou sem oxigênio para esse clima.

Pode ser difícil esperar que a onda passe para tentar uma contribuição contra o mais impróprio. Já nestes dias, uma tal "guinada de Jango com o comício do dia 13", em texto baseado no trabalho de um professor/historiador, deforma os fatos históricos. O comício foi um ato a mais no processo que se desenvolveu sem guinada alguma de Jango e de suas forças sindicais e partidárias. Se não se entender os processos retilíneos e paralelos, nada se entenderá da formação e da execução do golpe. E da sua instituição como poder.

O DERROTADO

Dilma Rousseff jamais desejaria uma comissão da Câmara para investigar a Petrobras, nem a convocação de ministros para depor aos deputados. Mas derrota, mesmo, quem sofreu com essas decisões propostas e efetivadas pelo PMDB foi o vice-presidente Michel Temer.

Ele era o PMDB no segundo cargo da hierarquia governamental. Tomaram-lhe o controle da bancada na Câmara e lhe impuseram duas medidas a que se opôs, com o que seria sua autoridade partidária, mais do que Dilma Rousseff. Se a atitude da bancada prosperasse, até mesmo a presença de Michel Temer na chapa de reeleição presidencial perderia razão de ser.

EM FALTA

O ex-deputado Plínio de Arruda Sampaio, em entrevista à coluna Mônica Bergamo, disse sobre José Dirceu: "Este roubou mesmo". Plínio tem belo passado parlamentar e toda uma história de seriedade. Nunca se soube, porém, que José Dirceu, mesmo sendo o alvo predileto que é, pudesse ser acusado de roubo. No STF, que Plínio depois invocou, foi acusado de corrupção ativa, sendo-lhe atribuída a política de aquisição de apoios parlamentares. Não peculato, nem lavagem de dinheiro ou qualquer apropriação.

Plínio Sampaio recomenda ao candidato do seu PSOL à Presidência que seja moralmente agressivo. À orientação polêmica, falta acrescentar o exemplo de quem fundamenta ou explica a acusação feita, o que é dívida também com todos que o têm respeitado.


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