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Ricardo Melo

A fumaça e o fogo na Petrobras

Nenhuma explicação dada até agora convenceu alguém das vantagens da compra de Pasadena

Levando em conta os fatos à disposição do público, parece não haver dúvidas de que a Petrobras errou na compra da refinaria de Pasadena, nos EUA. Seja qual for o ângulo da análise, nenhuma explicação dada até agora pelo governo Dilma Rousseff e pelos atuais e antigos dirigentes da estatal convenceu alguém das vantagens do negócio.

Surpreende, é claro, observar como uma transação deste quilate recebeu aprovação unânime de um conselho com tantas figuras carimbadas do meio empresarial. Mas deixa para lá, pelo menos por enquanto. O mundo dos negócios está recheado de exemplos de decisões bem mais desastrosas, dentro e fora de estatais. Sem pretender minimizar a lambança, cabe dizer que os valores envolvidos estão longe de ameaçar a saúde financeira de uma empresa do tamanho da Petrobras.

O mais perturbador é a sensação de que há muito, muito mais coisa debaixo do tapete de Pasadena. Ninguém tem o direito de ser ingênuo a ponto de acreditar que a demissão do executivo Nestor Cerveró, oito anos depois da trapalhada, vá resolver o problema. Aliás, só aumenta: por que aguardar oito anos para demitir alguém acusado de produzir um relatório "falho"?

Por enquanto o mordomo do enredo, neste período Cerveró apenas mudou de cartão de visita dentro da petroleira. De diretor internacional da Petrobras passou a diretor da BR Distribuidora. E não qualquer diretor: diretor financeiro! Ou seja, o funcionário acusado de não saber fazer conta e de causar prejuízo à Petrobras é nomeado para cuidar do... dinheiro de outra área da empresa. Uma raposa no galinheiro não se sentiria tão à vontade.

Por essas e por outras, a história não fecha, longe disso. Aliás, fica ainda mais complicada com a prisão de Paulo Roberto da Costa, ex-diretor de Abastecimento da estatal. Costa foi um dos responsáveis pela papelada que selou a compra da refinaria nos Estados Unidos. Agora é acusado de envolvimento num esquema bilionário de lavagem de dinheiro em conluio com doleiros. Embora as duas investigações corram em paralelo, são coincidências demais para serem apenas coincidências.

O governo tem plena consciência de que as coisas dificilmente vão parar por aí. Pode responder de duas formas. Uma é insistir na tecla de campanha contra a Petrobras, culpar adversários já conhecidos, alegar motivações eleitorais etc etc etc. É o caminho mais fácil; o discurso está praticamente na ponta da língua. Talvez funcione em algum palanque, mas o cheiro de queimado permanecerá tomando conta do ambiente.

A outra maneira de encarar a questão é colocar as cartas na mesa. Joia da coroa brasileira no mundo dos negócios, a Petrobras é um dos alvos preferenciais de políticos na hora de alojar seus afilhados; vale muito mais que a maioria dos ministérios no xadrez das nomeações. Todo mundo sabe disso. O que não se conhece com exatidão, pelo menos na planície, é até que ponto esta prática contaminou o organismo da empresa.

Neste caso, a melhor saída é tomar a dianteira e fazer uma radiografia de alto a baixo na estatal. Meios para isso há de sobra, desde que não seja mais uma daquelas comissões criadas com o objetivo de fazer a poeira baixar. Vai mexer com muita gente? Vai, e como. Gente graúda. Mas é bom que mexa.


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