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Para belgas, Petrobras fez extravagância em Pasadena

Sócios na refinaria de Pasadena se referiam de forma pejorativa à estatal

Documentos mostram que diretores da Petrobras achavam que colegas da Astra tinham 'visão de curto prazo'

ISABEL FLECK ENVIADA ESPECIAL A PASADENA RAQUEL LANDIM DAVID FRIEDLANDER DE SÃO PAULO

Os executivos da Petrobras faziam muita "besteira", eram "extravagantes" nos gastos e qualquer decisão levava "10 vezes mais tempo que o necessário". Era assim que os belgas da Astra se referiam aos seus sócios brasileiros na refinaria de Pasadena, no Texas (EUA).

Os comentários pejorativos de Mike Winget, presidente da Astra, e seu diretor de operações, Terry Hammer, aparecem numa troca de e-mails com outras cinco pessoas da equipe, datada de 2 de novembro de 2007 e obtida pela Folha na Justiça do Texas.

Os diretores da Petrobras também não estavam nem um pouco satisfeitos com os colegas da Astra. Achavam que os belgas tinham "visão de curto prazo", demoravam a "reagir" aos problemas, e pensavam muito diferente da Petrobras, conforme documentos internos da empresa também dessa época.

Na ocasião, as duas companhias discutiam o próximo passo de um negócio que começou no ano anterior, quando a Petrobras comprou da Astra 50% da refinaria texana.

Essa operação é hoje uma das principais dores de cabeça da estatal, que acabou pagando US$ 1,18 bilhão por uma refinaria que anos antes os belgas tinham comprado por US$ 42 milhões.

O próximo passo era decidir se a Petrobras compraria a outra metade de Pasadena, obrigação prevista no contrato se os sócios brigassem. Os desentendimentos começaram logo depois da associação, quando a Petrobras passou a defender investimentos de até US$ 3 bilhões para duplicar a refinaria.

Os belgas não concordaram e depois de um ano de sociedade já discutiam como sair do negócio. Nos e-mails, trocados enquanto negociavam a venda dos outros 50% para a Petrobras, é perceptível que os executivos da Astra duvidavam que a estatal realmente toparia o negócio.

"Vamos presumir o pior cenário. Teremos que continuar com a sociedade e continuar nessa bagunça por mais um ano", disse Winget. "Precisamos nos preparar para uma guerra suja".

O presidente da Astra disse que "não ficaria surpreso se a Petrobras já tiver se dado conta que a refinaria não vale os US$ 650 milhões que eles sinalizaram".

SURPRESA

Um mês depois, Nestor Cerveró, diretor internacional da Petrobras, surpreendeu a direção da Astra com uma oferta ainda maior: US$ 700 milhões. Cerveró, que estava na BR Distribuidora, foi afastado do cargo depois que o caso de Pasadena voltou à tona.

Nas mensagens entre os belgas, fica implícito que ele era um interlocutor frequente, com quem a Astra "media o pulso" da situação. "Eles provavelmente estão sentindo o terreno... Vamos saber mais depois que o Nestor responder", disse Winget.

Com a proposta de Cerveró na mesa, os belgas acreditaram que tinham um acordo. Eles se afastaram do dia a dia e a Petrobras começou a fazer os investimentos que queria. Gastou US$ 200 milhões nas obras e a refinaria de Pasadena tomou um empréstimo de US$ 500 milhões com o banco BNP Paribas.

No começo de 2008, Cerveró encaminhou o negócio com os belgas para o conselho de administração da Petrobras. Quando ficou ciente de todos os detalhes, Dilma, que presidia o conselho, se recusou a fechar a compra.

A Petrobras, então, passou a exigir que a Astra injetasse dinheiro na refinaria e avalizasse mais um empréstimo. A briga foi parar na Justiça. Como o acordo original beneficiava os belgas, a estatal perdeu e foi forçada a fazer um dos negócios mais estranhos da sua história.


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