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Sob pressão, petista ligado a doleiro decide renunciar

André Vargas cede ao partido e anuncia que abrirá mão do mandato hoje

Gravações feitas pela PF em investigação de esquema de lavagem de dinheiro atingem mais gente, afirma deputado

NATUZA NERY DE BRASÍLIA

Desgastado depois que uma operação da Polícia Federal apontou sua ligação com um bilionário esquema de lavagem de dinheiro, o deputado federal André Vargas (PT-PR) afirmou ontem que renunciará hoje ao mandato.

Dizendo-se "condenado" sem provas pela imprensa e sugerindo que as "12 mil gravações" feitas pela PF na Operação Lava Jato ainda têm muito a revelar, o petista ficou isolado dentro do PT, que o pressionava a renunciar.

"São 12 mil gravações. Tem muita gente lá. Tem muito empresário, e a imprensa não trata as pessoas como supostamente envolvidas", disse Vargas ontem, ao comentar sua decisão, antecipada pela Folha. Questionado se poderia apontar essas pessoas, respondeu: "Não sou desses".

Vargas começou a cair em desgraça há duas semanas, quando a Folha revelou que fizera uma viagem de férias com a família num jatinho pago pelo doleiro Alberto Youssef, personagem central do esquema investigado pela PF.

A polícia encontrou indícios de que Youssef se associou ao ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa para fazer negócios com construtoras e fornecedores da empresa estatal e distribuir dinheiro a políticos que apóiam o governo no Congresso. Os dois estão presos.

Mensagens de telefone celular interceptadas pela polícia mostram que Vargas trabalhou em favor de um laboratório farmacêutico ligado ao doleiro, o Labogen, que estava interessado num contrato com o Ministério da Saúde.

Numa dessas mensagens, em que pediu ajuda a Vargas para conseguir o contrato, Youssef disse ao deputado petista que a transação poderia assegurar a "independência financeira" de ambos.

"Reconheço que sou vice-presidente da Câmara e entendo que deveria ter sido mais prevenido", afirmou Vargas. "Nunca deixei de defender meus companheiros."

Vargas negou ter sido pressionado pelo PT a renunciar, mas admitiu que nem todos ficaram a seu lado. Na semana passada, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que ele devia explicações e afirmou que o PT não poderia "pagar o pato" por ele.

"Acho que minha renúncia vai ajudar a explicar o que é essa Operação Lava Jato. Vai ficar claro que eu não tenho nada a ver com isso. Já vi os autos. Já li as mais de 8.000 páginas, e o que tem de destaque até hoje é um jatinho e um projeto da Labogen que acabou por não acontecer."

RESPONSABILIDADE

Vargas admitiu que conhece Youssef há muitos anos, mas negou ter cometido irregularidades. "Ele é um empresário da minha cidade! Se eu entendesse que ele estava cometendo algum crime, não teria conversado com ele. Eu estava tratando de um projeto importante. Se ele estava cometendo um crime, não tenho responsabilidade por isso".

Na semana passada, após sua ligação com o doleiro vir à tona, Vargas se licenciou do mandato por 60 dias e abriu mão do cargo de vice-presidente da Câmara. Com a renúncia, o petista ficará impedido de disputar eleições até 2023 e ainda terá que enfrentar um processo de cassação aberto contra ele no Conselho de Ética da Câmara.

Vargas se notabilizou na Câmara pela defesa dos petistas condenados pelo STF (Supremo Tribunal Federal) no julgamento do mensalão.

Em fevereiro, ele ergueu o punho para os fotógrafos quando estava ao lado do presidente do STF, Joaquim Barbosa, durante uma solenidade no Congresso, repetindo o gesto feito pelo ex-ministro José Dirceu e pelo ex-deputado José Genoino antes de serem presos, em novembro.


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