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Janio de Freitas

À espera de tragédias

O que se ouve sobre 'segurança' para a Copa refere-se a tropas, nada sobre métodos inovadores

Um dos tumultos incluídos na planejada recepção à Copa é a invasão de prédios e áreas em grande quantidade. O movimento dos sem-teto, sucedâneo urbano do movimento dos sem-terra, já põe em prática ações que reproduzem as táticas do MST quando influenciado por José Rainha: não apenas a invasão, mas fazê-la com a disposição do confronto com a polícia, até mesmo de iniciá-lo. No Rio prolonga-se há cinco dias um episódio assim, prenúncio com aspectos de ensaio.

Ser, a priori, contra esses movimentos é pôr-se contra a verdade de que são, ao longo dos tempos, o mais eficiente e muitas vezes o único meio de forçar governos a alguma política social. Em muitas ocasiões, foi assim que se fizeram as ondas periódicas de reforma agrária. Mas, tal como aconteceu com parte do MST, por exemplo na zona paulista do Pontal do Paranapanema, não é incomum que ações ocorram mais pela exacerbação política, ou só por ela, do que pela finalidade humanitária.

A agitação política é outro objetivo legítimo na democracia. Em casos, porém, como o atual no Rio, parece claro que o chamado às aglomerações resulta em massa de manobra para incitadores, tenham eles, ou não, tal propósito desde o início. Quando é isso, é péssimo. Há aí uma forma de usar as aflições e necessidades de pessoas levadas a esperanças ingênuas. E, se há incitação ao confronto, levadas a atos e riscos que nunca pretenderam.

Na ocupação do prédio e da grande área da Oi, há quase duas semanas no Rio, foram reconhecidos ativadores do movimento dos sem-teto de outros Estados. O movimento não é necessariamente regional. Mas incitadores de fora indicam ação planejada, não apenas os improvisos de um possível teto novo. Plano que incluiu o enfrentamento com a polícia e, prevista a retirada, enfrentamentos posteriores, que agora se dão. É o clima da Copa visto de baixo para cima?

Convém pensar que sim, para pensar em impedir tragédias. Desde a chegada dos primeiros invasores, que demarcavam pequenas áreas para erguer barracos, a invasão foi noticiada e fotografada. O erguimento dos barracos, a chegada de mais e mais invasores, até aos estimados 5 mil, tudo foi exposto na imprensa durante uma tranquila semana. No décimo dia, pela madrugada, chegaram os choques policiais para cumprir a ordem judicial do desalojamento.

A recepção foi com pedras, paus, ferros, coquetéis-molotov, lutas corpo a corpo. Feridos em proporções equivalentes, de um lado e do outro. Nos dias seguintes, ontem ainda, novos enfrentamentos, agora na aglomeração de algumas centenas de sem-teto em frente à prefeitura e em ruas importantes do centro. Hoje, ou em outro dia, pode haver qualquer coisa. Ou nada.

Tudo o que se ouve sobre preparativos de "segurança" para a Copa refere-se a quantidade de tropas, armas, equipamentos. Nada sobre métodos inovadores de ação. Se forem repetidos, por exemplo, os métodos aplicados no atual caso de invasão, o desastre será igual, no mínimo, e provavelmente pior. Por que dez dias de espera, enquanto um punhado de invasores se elevava a milhares? Espera da ordem judicial. Não é verdade. Para impedir início de invasão, a polícia não precisa de tal ordem, trata-se apenas de ação policial comum. Simples e, se praticada, não levaria aos choques violentos, feridos, prisões e mais consequências.

Já se sabe que novas e problemáticas invasões estão em preparo. Não só no Rio, não. Equipes para agir com a presteza demonstrada por repórteres e fotógrafos, ao menos esta, seria um eficiente preventivo de brutalidades e possíveis tragédias. A solução não está em armas especiais, máscaras especiais, equipamentos especiais. Está em cabeça e rapidez para prevenir.

Ou seja, por ora, simplesmente não está.


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